OS Brasileiros era um documentário anunciado pela TV Manchete. E daí? Foi um batucar sobre o óbvio - apesar das eminentes pessoas entrevistadas.
O que é o brasileiro? Luís Carlos Prestes – no programa - um dos poucos que merecem respeito: "sou a favor do brasileiro". Dom Avelar Brandão Vilela foi pessedista. Já o grande empresário Antônio Ermínio de Morais disse que falta uma classe dirigente. O nosso Abdias do Nascimento deu seu piá habitual: o negro.
No meio da salada, todo mundo sabe. O brasileiro é sadio porque é amoral. dionisíaco e acha, como Samuel Johnson, que o conceito de pátria é uma palhaçada. Mas, venham mexer com essa patria profundamente autocrítica que é o Brasil! Saiam de baixo. Nós somos o que somos. Graças aos deuses do vício.
Gilberto Freire - uma das nossas abençoadas inteligências - disse antologicamente que a história íntima é que é a grande história. "O cotidiano é muito mais importante do que as grandiosidades públicas". "Mais importante do que a Proclamação da República, a Abolição da Escravatura e outras frescuras constantes dos livros de História. Que História? Aquela que Arnaldo Niskier cita, lembrando Abgar Renault, de nossa "vocação gratuita para o afeto". Niskier tem razão- o poder military não existe - senão o escândalo não estaria implantado no país.
Para Pedro Nava, "Macunaíma (de Mário de Andrade) é o retrato do brasileiro". Para Antonio Houaiss - o grande intelectual, gourmet (e, não, gourmand, só por causa das escaramuças das vísceras) - tudo deve ser misturado: Nava, Juruna, Cacá Diegues, vox populi, futebol, samba, mulher e até o sociólogo Roberto Da Matta, meneur du jeu do programa que não disse ao que veio. E não faltam ainda figuras heterogêneas, como Jorge Amado e Afonso Arinos, todos orgulhosos de serem brasileiros. Enfim: se não há dor de cotovelo nacionalista, qual a razão do programa? Somos todos brasileiros. Queremos brincadeira, não queremos ditadura.
Última Hora
05/10/1983