NA novela Eu Prometo, que vai correndo num ritmo bastante razoável, no troca-troca de situações, já existem dois registros de interpretação feminina a serem feitos. E feitos com todas as merecidas galas.
Começando pelos mais idosos, temos a presença de Leonor Lambertine, no papel de Dona Raimunda, mãe de Horácio Ragner (Walmor Chagas). Tem uma naturalidade admirável num papel que envolve peculiaridades e, até por ser pouco teatral, sobrepõe-se em geral nas sequências em que contracena com o experimentadíssimo Walmor. É vê-la com o gato, com as suas ligeiras observações.
No segundo e mais impressionante caso, está aí Fernanda Torres, no papel de Daise Cantomaia, uma das filhas do até agora protagonista, vivido por Francisco Cuoco. Essa jovem passou a dominar praticamente todas as cenas em que aparece. Não só as mais dramáticas - pileque, discussão com a mãe ou agressão à fotógrafa - mas a classe absoluta numa cena aparentemente simplória, quando fala ao telefone, a fim de saber quem é Kely e seu número. Domínio dos gestos, da inflexão vocal. Sabe viver a histeria e a malignidade.
Há duas espécies de ator: aquele que exerce o autocontrole da neutralidade e deixa que, em primeiro plano, sua personalidade seja inteiramente absorvida pelo personagem; e aquele que, embora dando vida e autenticidade ao mesmo personagem, envolveo com a sua personalidade. Na primeira hipótese, há muitos exemplos no realismo, neo-realismo etc. Na segunda, situam-se geralmente os grandes astros, as grandes estrelas, aqueles que se tornam mitos do público e, em dado momento, acabam só sendo eles mesmo com o acréscimo do personagem. O teatro, desde Sarah Bernhardt, mostra isso e principalmente: o cinema, com uma Greta Garbo, uma Marlene Dietrich, uma Marilyn Monroe. Em nossa telenovela, isso promete acontecer com Fernanda Torres. Pelo menos, já se pode apostar que sua presença fará com que o enredo da novela venha a tomar novos rumos.
Última Hora
13/10/1983