A câmara reflete o olho. Estamos em Louco Amor. Reginaldo Farias vai passar a grande cantada em Teresa Rachel. Primeiros planos. Olhares de sedução. Ela quer… a novela continua.
Tudo isso se resume na jogada de Louco Amor. Nada é sério. O amor na telenovela constitui um mal rarefeito. Boa, a iluminação. Os closes, as tomadas em primeiro plano. Trata-se do sistema global. Por que o global? Transa com o óbvio.
Depois, o desprezo. Sexo é isso. Só desprezo. Depressa, depressa. A lauta facilidade das mulheres, parece que tudo é uma brincadeira. No entanto, os close-ups tentam dizer que vivemos uma ilusão. Ilusão global.
O público se amarra no idílio. Ninguém é fácil, não se navega. Há sempre um adeus de quem nada quereria dizer. Restam, porém, as dúvidas do deus-nos-acuda.
O romance na TV. Falas e gemidos. O romance de gentes bem sofridas, os jovens fluem em suas deliquescências. Inferem-se comportamentos. Forjam-se ilusões do dia-a-dia. Mas nada irá transmitir o que faltou de transações. A novela só nos dá aquele apego do desespero da carência de sensações.
A novela é isso. Procura despertar o lugar-comum de intrigas e falta de "não sei o que fazer". Uma hora por dia. Duas. O vídeo aberto. O olho descansa.
O Louco Amor vai acabar. Os finais serão felizes. A câmara, voltamos a dizer, reflete o olho - o olho de quem está cansado de passear no lugar-comum. Mas é isso mesmo - o grande tema - o lugar-comum.

Última Hora
19/10/1983