O problema da exibição obrigatória dos filmes de curta-metragem continua em vigor. Partiu-se do absurdo para nada. No momento, o quadro é o seguinte: existem cerca de 700 filmes bailando no mercado: a Resolução do Concine, de nº 61/80, ainda está em vigor: a comissão de classificação dos curtas não se reúne há dois meses. Elementar: trata-se do caos plantado na loucura.
A tese que sempre defendemos é aquela de que a TV poderia absorver o curta. Bastaria a TV Educativa sair do marasmo onde limpidamente navega. Em suma, bastaria haver um mínimo de vontade de criar. Por que não exibir filmes de curta-metragem na TV? O público é muito maior. E inexiste a coação do cinema. Na TV, o telespectador simplesmente gira o seletor e se livra do abacaxi (quando o caso for abacaxi).
No cinema, ao contrário, gerou-se a má vontade. O público paga, mas nunca para ver aquilo que não pediu e que lhe é profundamente desagradável. É preciso notar que o filme de curta-metragem não é uma fatalidade burocrática. Ele provém de um ato de criar - e nada mais.
Na TV, inclusive, poder-se-ia imaginar um festival de curtas. Prêmios, júris e todas as brincadeiras do gênero. Seria uma tentativa de saída para a crise. E sem maiores ônus, pois o espaço aberto na TV Educativa é infindável.
É só lembrar que existem ótimos curtas-metragens na área da música popular brasileira. Filmes sobre Pixinguinha, Lamartine Babo, Francisco Alves, Carmen Miranda, Carlos Galhardo, Lupicínio Rodrigues, Noel Rosa etc & etc. E aqueles outros documentários sobre a exposição de 1922, o Marechal Rondon, o teatro de 1945 etc.
São registros do maior interesse. Giramos, porém, no absurdo. O público que vai ao cinema odeia o curta-metragem (e com toda razão). E toda uma política é feita de costas para esse mesmo público.

Última Hora
20/10/1983