Os jornais televisados, desde as sete da manhã, atacam com as informações. A Globo domine em matéria de distribuir pequenos delírios. Entrevistas, reportagens, travelings por entre a miséria, os incansáveis políticos e as reivindicações.
Existe apenas um registro. Para a empinada Globo. O Rio de Janeiro, apesar de tudo- apesar do provinciano Brizola -, ainda não é província. Todos os dias, o pobre do telespectador é assaltado por problemas da Cidade de Deus. Tem de saber o que aconteceu nos presídios. É claro que sempre aparece uma autoridade, com ar de seriedade (é para rimar mesmo, pois as autoridades chegam aqui do Nordeste; ainda levam a sério ou acham graça no adultério feminino, como se o santo adultério pudesse ser algo de significativo na civilização industrial), para dizer que tudo será resolvido. Nada disso. O Rio quer manter o seu santo deboche, o Rio é uma cidade saudavelmente pagã, que não dá pelota aos moralistas, aos fazedores de frases cretinas. Será, cínicos, que não sabem que o meretrício é a profissão mais respeitável?
Por isso, temos de exigir maior respeitabilidade pagã aos telejornais. Que a Globo não nos encha a paciência (ou aquilo que Deus dispôs mais embaixo) com probleminhas que só o socialismo resolveria. O telespectador brasileiro não quer saber de miséria fabricada a cores. Quer ver casamento da família do Ibrahim Sued. Quer ver novelas e muita fantasia. Não há pão: o Governo é rigorosamente incompetente. Ninguém solicitou essa magna incompetência. Tudo o que se deseja é bom senso e o que se escuta nas entrefalas das famílias mais honestas. O Cid Moreira, quando anuncia o início da fala, tem aquele saudável cinismo de quem está gozando todos os tele-teles. Só o Roberto Marinho, fazendo o seu vaporoso hipismo, ainda goza mais, do alto. No mais, estamos todos bem-informados; e malpagos.
Última Hora
22/10/1983