Champagne continua a dar o plá em matéria de cinegrafia. Desta vez, o sistema global está dando aula – mesmo, prá valer - no tocante a soltar os cachorros. Outro dia, estavam, na sauna, Ilka Soares, Marieta Severo e Isabel Ribeiro, numa cena extremamente bem filmada, onde os turbantes brancos misturavam-se aos jogos de olhar. Só faltava uma delas dizer que o psicanalista ideal é o estivador.
O sistema tem compromissos de audiência. Ouve o lbope. Sabe se a turma da pesada está entendendo ou não o que anda e gira pelo entrecho. O erotismo sutil - à la Hollywood - tomou conta do ambiente. Mas, às vezes os compromissos estéticos são superiormente fortes. Não adianta apenas patinar em rumos e rumores do enredo. O know-how quando baixa é para ficar. Então, esses mesmos citados compromissos comerciais rendem-se à exigência do exercício da beleza. E, ao universo daqueles que estão trabalhando, junta-se o compromisso de concretizar o savoir faire.
Hoje, os psicanalistas estão perdendo a clientela. Mas as atrizes estão lá. Também os atores e coadjuvantes de inúmeros sexos que possui toda a cidade cosmopolita. O homossexual - com ou sem tamancos - torna-se um ser respeitável: não apenas risíveis como figuras de bas-fond, ou drásticos, hieráticos, tal qual os mordomos ingleses. Estão aí em todas as novelas, como pululam na alta sociedade.
Essa magnífica postura amoral do sistema global é reconfortante para o País. Mostra que não somos hipócritas.
É relevantemente educativa, pois também demonstra - que o seja nas entrelinhas - que só o sagrado amoralismo educa um povo que se preza quem não se lembra da resistência de Tebas? Quem foram Baudelaire, Byron, Shelley, François Villon ou o Marquês de Sade?
O resto é o resto.
Última Hora
31/10/1983