Gerente do Banco: "O senhor desculpe ter demorado a voltar; fui ali até o cafezinho e ainda me demorei arranjando trocado para dar uma esmola ao mendigo simpático que está sentado aqui na porta.''
Cliente: "De nada, de nada, ao senhor é que peço desculpas de ter-me abancado aqui, em frente da sua mesa.''
Gerente: "O senhor, se não me engano, é o recomendado do dr. Vieira."
Cliente: "Exato, êle, pelo visto, já falou sôbre o meu caso com o senhor; venho aqui empinar um imenso papagaio."
Gerente: "Sei, sei - de quanto é mesmo?"
Cliente: "Trata-se de 15 milhões."
Gerente: "Perfeito, perfeito, o seu caso é uma exceção dentro do nível geral dos nossos empréstimos particulares, mas tudo será resolvido, desde que apresente um avalista de pêso."
Cliente: "Isso não é problema."
Gerente: "Então o senhor já pode ir assinando, aqui, estas duas vias do borderô e mais esta promissória e levá-la logo ao avalista."
Cliente: "Aliás, para apressar a coisa, trouxe o avalista comigo."
Gerente: "Ora, ora, mande-o entrar logo, vou puxar, uma outra cadeira."
Cliente: "Olha, êle já está chegando."
Gerente: "Como? Este mendigo? O senhor está brincando? Isto é loucura!"
Cliente: "Não, falo sério, mas, na realidade, devo-lhe uma explicação. O senhor se lembra daquela peça de Joracy Camargo, Deus lhe pague, do mendigo que, à custa de esmolas, fica milionário?"
Gerente: "Lembro, lembro, e daí?"
Cliente: "Pois êste é o casa do cavalheiro aqui, meu avalista; à força de receber esmolas diariamente, há meio século, é, agora, uma das fortunas do país - é proprietário de inúmeros prédios na Vieira Souto, possui centenas de milhares de ações do Banco do Brasil, Petrobrás, Brahma, Souza Cruz, Docas de Santos, Vale do Rio Dôce, é presidente de várias companhias de investimentos, tem conta na Suíça, oito iates, é a maior conta internacional do Diners, dono de vários bancos, tudo isso livre do impôsto de renda."
Mendigo: "Na verdade, o meu amigo está certo; mas por causa da minha apresentação pessoal, trouxe aqui vários títulos de propriedades imobiliárias, além de cautelas de ações, para fazer prova junto ao senhor."
Gerente: "Tudo isso pode ser muito curioso, mas não aceito esta loucura: ponha-se para fora!"
Cliente: “Por favor! Calma! Por favor! Apele para o seu bom-senso."
Gerente: "Bom-senso? Os senhores é que são doidos varridos."
Mendigo: "E o senhor é um intolerante!”
Gerente: "Intolerante é, o senhor; aliás, se é tão rico, por que não empresta o dinheiro para ele, seu impostor.”
Mendigo: "E é o que estou fazendo porque justamente êste banco é um daquêles de minha propriedade - o dinheiro é dêle e o senhor, desde já, considere-se despedido, passe logo na caixa, seu mal-educado!'
Gerente: "Socorro! Ai, ai, minha úlcera abortou, ai!!!"
(Pano, pano).

Correio da Manhã
23/05/1969