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Xerloque da Silva

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Imersão geral

As autoridades estaduais descobriram, agora, que 80% dos desastres de veículos que ocorrem no Rio são fruto dos desvarios ao volante, praticados pelos motoristas dos coletivos. A pista de corridas antigamente predileta era a Avenida Brasil. Depois, até por causa do menor volume de trânsito, passou a ser o Aterro do Flamengo, onde, principalmente à noite, quando a fiscalização do Departamento de Trânsito, de insuficiente, passa a ser nula, os ônibus, até com passageiros de pé, devoram o asfalto, a 100, 120 quilômetros.
O secretário de Segurança perdeu, então, a paciência e acaba de anunciar uma medida drástica: motorista de ônibus que trafegar em alta velocidade ou provocar qualquer acidente, será enviado sumariamente para a Ilha Grande, onde dormirá ao som do pinho do sr. Carlos Imperial. O mesmo acontecerá com os proprietário de empresas de coletivos, quando se comprovar que o estímulo ao excesso de velocidade provém da ganância deles em faturar o máximo possível a trôco do suspense permanente dos passageiros.
O problema é, assim, dos mais velhos. A punição recém estabelecida é que se consiste numa novi dade. Mas, com ela, começa a emergir um outro problema, ou seja, o temor (já, agora, até que bem fundamentado) de que a Ilha Grande acabe afundando. Senão, vejamos: além do presídio e das centenas de presidiários, guardas, funciónários e da população do local e pescadores, já foram enviados par a ela inúmeros ases do jogo do bicho e outras modalidades de contravenção, o sr. Carlos Imperial, feirantes e comerciantes autuados em infração contra a economia popular, estudantes, homossexuais e outras pessoas, acusadas dos mais variados delitos. Some-se isso tudo à futura grande leva de motoristas de ônibus, trocadores e donos de empresas, e constatarse-á que a população vai triplicar. Além do mais, some-se também a visita de parentes, a inspeção de autoridades e os inúmeros repórteres e fotógrafos que lá vão a fim de entrevistar o sr. Imperial e será viável verificar que o solo pode ceder.
A ilha perderá sua tranquilidade e, em troca, ganhará o burburinho do vaivém, ao lado da preocupação de que todo mundo venha a imergir no universo submarino. O resto será affaire dos peixes.

Correio da Manhã
17/01/1969

 
Fiscal fisgado
Correio da Manhã 14/01/1969

A mesma ilha
Correio da Manhã 15/01/1969

Bonnie sem Clyde
Correio da Manhã 16/01/1969

Imersão geral
Correio da Manhã 17/01/1969

Sinuca sangrenta
Correio da Manhã 18/01/1969

O homem-fome
Correio da Manhã 19/01/1969

Crime numa nota só
Correio da Manhã 22/01/1969

A receita do seu Zezé
Correio da Manhã 23/01/1969

A luta conjugal
Correio da Manhã 24/01/1969

O mistério do professor vermelho
Correio da Manhã 25/01/1969

Teatro Leve
Correio da Manhã 26/01/1969

O transplante
Correio da Manhã 28/01/1969

Idem idem
Correio da Manhã 29/01/1969

Cadê Zizi
Correio da Manhã 01/02/1969

Barulhinhos
Correio da Manhã 02/02/1969

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