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Xerloque da Silva

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O mistério do professor vermelho

Chego, enfim, à porta do hotel e dirijo-me para a recepção. Tiro do bolso do sobretudo as minhas credenciais e exibo-as ao sujeito de libré vermelha detrás do balcão. Imediatamente, ele, quase se perfilando, diz: "Ao seu dispor, delegado." Pergunto qual o apartamento onde se encontra hospedado o Professor Vermelho e se ele, no momento, está lá. "É o 401, mas o Professor Vermelho acaba de ir embora, já tendo pago as despesas; o seu sócio, porém, ainda permanece lá." Saio em disparada pelas passadeiras vermelhas, entro no elevador e ordeno ao ascensorista de vermelho que me leve ao 4º andar. Aperto o botão da campainha do 401 e um homem de robe-de-chambre vermelho abre a porta. Exibo novamente a minha carteira e indago pelo paradeiro do Professor Vermelho. "Meu sócio seguiu para o aeroporto." Arranco em disparada pelas escadas abaixo, saio do hotel e mergulho pela porta de um táxi vermelho. Salto no aeroporto, corro e paro ofegante diante do balcão da companhia de aviação e pergunto à mocinha de uniforme vermelho em qual avião embarcara o Professor Vermelho. "Esteve aqui, mas desistiu de voar por causa do horário; foi para a estação rodoviária." Desabalo-me novamente, entro no táxi vermelho, ordeno ao motorista que fure todos os sinais vermelhos e desço na rodoviária. Vou ao balcão e, à minha pergunta, vejo a unha vermelha do indicador da môça apontar para o ônibus vermelho que já faz roncar os motores. Entro inopinadamente no interior do veículo, mas vejo, vazio, o lugar que deveria estar ocupado pelo Professor Vermelho. A mulher de costume vermelho, sentada ao lado, informa: "Desistiu e tomou um táxi vermelho." Era o meu táxi. Saio andando ao léu e sento-me no banco da praça. Ergo a cabeça e vejo o rosto de uma cigana, com pano vermelho na cabeça, com os olhos a me fitar. Apelo ao sobrenatural. A cigana enfia sob a blusa as minhas notas vermelhas de cinco contos e fala: "Espere a noite e vá ao bar Vermelho, ele estará lá, sózinho!" Sigo pelas ruas escuras guiado pelo pisca-pisca das luzes vennelhas dos anúncios luminosos. Entro na ruela, tomado de emoção, e destravo, no bolso, a minha pistola. Paro em frente da porta vermelha do Bar Vermelho. O porteiro de vermelho aciona o trinco e empurra-a. Piso no macio do tapete vermelho, sob a semi-escuridão das luzes vermelhas. Olho para os lados e não vejo ninguém: só cadeiras vermelhas vazias. Enfim, enxergo um vulto solitário, sentado num canto. Dou um pulo e caio diante dele, pistola na mão. Digo: "Está preso, Professor Vermelho." Ergue-se um homem de terno azul e diz: "Houve um desencontro, eu faço parte de outra história."

Correio da Manhã
25/01/1969

 
Fiscal fisgado
Correio da Manhã 14/01/1969

A mesma ilha
Correio da Manhã 15/01/1969

Bonnie sem Clyde
Correio da Manhã 16/01/1969

Imersão geral
Correio da Manhã 17/01/1969

Sinuca sangrenta
Correio da Manhã 18/01/1969

O homem-fome
Correio da Manhã 19/01/1969

Crime numa nota só
Correio da Manhã 22/01/1969

A receita do seu Zezé
Correio da Manhã 23/01/1969

A luta conjugal
Correio da Manhã 24/01/1969

O mistério do professor vermelho
Correio da Manhã 25/01/1969

Teatro Leve
Correio da Manhã 26/01/1969

O transplante
Correio da Manhã 28/01/1969

Idem idem
Correio da Manhã 29/01/1969

Cadê Zizi
Correio da Manhã 01/02/1969

Barulhinhos
Correio da Manhã 02/02/1969

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