Foi preciso que o sr. Carlos Imperial chegasse para uma estada na Iha Grande para que o Governo, a EMBRATUR e boa parte da população da Guanabara e do Estado do Rio tomassem conhecimento das maravilhas turísticas que permanecem desperdiçadas num dos lugares mais pitorescos do País. O autor de A Praça e de Vem Quente que eu Esitou Fervendo, como é sabido, recebeu punição por um delito originalíssimo, ou seja, a emissão de um cartão de Boas Festas, que causou a maior repercussão. Além disso, tratava-se de uma oportunidade única e secular, a não ser perdida, pois só daqui a cem anos poderia alguém repetir a façanha, que, segundo o sr. Imperial, inspirava-se nas irreverências dos Beatles.
Desembarcando na Ilha Grande, depois de uma viagem algo apressada, ele, entre outros hóspedes, encontrou o sr. Castor de Andrade, figura de proa da direção do Bangu Atlético Clube. Carlos e Castor, como estamparam todos os jornais na semana passada, intensificaram logo uma amizade, concretizada também na parceria da criação de um novo samba romântico, intitulado A Ilha. A composição promete ser um grande sucesso e, segundo consta, as gravadoras já se preparam para enviar ao local os seus técnicos e o material eletrônico a fim de não perderem tempo no tocante ao lançamento do disco, cuja vendagem calculam que deverá ultrapassar aquela da Banda, ele Chico Buarque.
Mas o sr. Carlos Imperial não se limitou à atitude lírica de compor e contemplar a natureza. Voltou-se para questões econômicas e administrativas. Assim é que já se dirigiu às autoridades públicas, no sentido de sugerir que, em lugar do presídio ou da própria solidão do local, apenas rompida em geral pelos pescadores ou desportistas do iatismo, fôsse construído um grande hotel e com tôdas as delícias do confôrto moderno, a fazer com que turistas acorressem aos montes para melhor apreciar a natureza. Em lugar do mistério, teríamos mais dólares dos estrangeiros ou a circulação interna de riquezas.
Ainda não se sabe, ao certo, se o Governno, através da EMBRATUR, irá ou não nomear um grupo de trabalho com a finalidade precípua de examinar as sugestões do sr. Carlos Imperial. Todavia, o principal mistério ainda não é este: reside em saber se, com a monotonia, o sr. lmperial, decorriclo algum tempo, cairá com relacão ao samba. A Ilha, no próprio refrão de A Praça, ou seja: "a mesma ilha, a mesma ilha..."

Correio da Manhã
15/01/1969