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Xerloque da Silva

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Sinuca sangrenta

Os salões de bilhares já tiveram maiores épocas de glória no Rio, quando eram centro de encontro dos ases da sinuca, bem como local de confraternização ou de disputa dos reis da malandragem. Um bas-fond todo peculiar, de onde emanava uma gíria própria, lunfardia brasiliensis, de cujo vocabulário pode-se lembrar exemplos, como "engrupir" (enganar) ou "ficar cabrito" (ficar desconfiado) ou "dar uma estia" (dar uma colher de chá ou pedir uma "grana" emprestada). Era a fase onde podia-se assistir de graça, madrugada adentro, aos grandes tacos, como Lincoln ou Tijuca, e, mais recentemente, o "Carne Frita", "fecharem o jogo", isto é, encaçapando todas as bolas (da um até a sete) sem que o parceiro sequer jogasse. Entre o deslizar das bolas pelas mesas tujague ou brunswick, entre uma golada ou outra de cerveja ou cachaça, fechavam-se as apostas, formavam-se as "parceiradas" ou estabeleciam-se os partidos a serem dados quando havia diferença de forças. Enfim, o enfumaçado dos cigarros, em contraste com a luz sobre o pano verde, confere as cambiantes para o expressionismo popular. Às vêzes, rixas ou mesmo tiros, num ambiente onde, à malandragem dominante, juntava-se até gente bem, apaixonada pelo jogo.
Agora, na Rua Cecília, em Caxias, reviveu-se uma cena de far-west de bilhar, com bofetões e tiroteio, ao término ele uma parceirada. Almir e Joel disputam, valendo o tempo, uma série de partidas contra Otacílio e um companheiro. Vejam só: valia só o tempo, não havia notas nem de cinco nem de dez cruzeiros no fundo das caçapas para serem recolhidas pelos vencedores. Terminado o jogo, Almir e Joel perderam e o tempo, a ser "rachado" entre eles, era de 16 cruzeiros e 40 centavos. Almir pagou a sua parte (8 cruzeiros e vinte centavos), mas, Joel negaceava. Foi quando Otacílio palpitou, dizendo-lhe que, se estava "duro" não deveria jogar, muito menos apostando. Joel, embora sem razão, não gostou e desfere-lhe quatro tiros. Otacílío, apesar de estar com quatro balas espalhadas pelo corpo, atraca-se com o rival, domina-o aos bofetões e gravatas, toma-lhe o revólver e despacha-lhe as duas balas restantes. Dá-se a clássica chegada da polícia, além do ajuntamenta de populares, e inicia-se o itinerário do pronto-socorro até a cadeia.
Caxias reviveu a nota turbulenta dos tempos famosos da sinuca. O malandro duro deu a bronca, quis engrupir entrou em cana e pelo cano.

Correio da Manhã
18/01/1969

 
Fiscal fisgado
Correio da Manhã 14/01/1969

A mesma ilha
Correio da Manhã 15/01/1969

Bonnie sem Clyde
Correio da Manhã 16/01/1969

Imersão geral
Correio da Manhã 17/01/1969

Sinuca sangrenta
Correio da Manhã 18/01/1969

O homem-fome
Correio da Manhã 19/01/1969

Crime numa nota só
Correio da Manhã 22/01/1969

A receita do seu Zezé
Correio da Manhã 23/01/1969

A luta conjugal
Correio da Manhã 24/01/1969

O mistério do professor vermelho
Correio da Manhã 25/01/1969

Teatro Leve
Correio da Manhã 26/01/1969

O transplante
Correio da Manhã 28/01/1969

Idem idem
Correio da Manhã 29/01/1969

Cadê Zizi
Correio da Manhã 01/02/1969

Barulhinhos
Correio da Manhã 02/02/1969

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