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Xerloque da Silva

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Barulhinhos

Pedro entrou esbaforido na repartição e berrava para os colegas: "Meu Deus! Um milagre! Vou ficar milionário! As pedras em volta do rio do meu terreninho são verdadeiras minas de brilhantes!". Suando, esfregando o lenço na testa, continuou: "só falta, agora, ligar pro meu irmão, que daqui há pouco ia assinar escritura de venda do lugar pela bobagem de 5 milhões em 2 anos". Tomou um gole de água: "tenho de avisá-lo a tempo, mas isso não vai ser problema porque êle está no escritório". Pega no telefone e aguarda o ruído de discar. Ouve uma musiquinha ao longe e uma conversa sôbre adultério numa linha cruzada. Nada do ruído de discar. Deixa o fone em cima da mesa e vai apanhar um cigarro. Um dos colegas comenta eufórico: "olha o felizardo''. Outro diz: "olha o meu, estou duro e endividado". Pedro (voltando ao fone) promete: "vou dar uma festa de comemoração e quem precisar de mim pode contar comigo". Leva o fone ao ouvido e lá está a conversa cruzada. Bate repetidamente no gancho. Em vão. Uma colega diz: "desliga e espera um pouquinho, você tem tempo". Deu então duas voltas pela sala, entrou no banheiro, saiu e pegou novamente o telefone. Nada. Impacienta-se um pouco. Disca duas vêzes ao léu e bate no gancho. Alívio. Disca então os seis números, já com o sorriso sôlto para a boa nova ao irmão. Mas não vem sinal nenhum, escuta apenas uns barulhinhos repisados. Fica nervoso e desliga. Espera, de nôvo, o sinal para discar. Enquanto isso, sôfrego, comprime o fone entre o ou·vido e o ombro e apanha um cigarro dentro do maço e depois acende-o com um isqueiro. Traga fundo três vêzes - salve! - o ruído de discar. Disca rapidamente. Lá vêm os barulhinhos, mais nada. Desta vez, espera mais tempo, tamborilando com um dos dedos na mesa. De repente, cai a ligação e volta o ruído para discar. Solta um palavrão. Disca outra vez, com calma, para não errar e não dar engano - barulhinhos, só barulhinhos. Logo depois cai novamente a ligação e nem sequer o sinal de discar. Reinicia a operação para obter o sinal. Ei-lo de volta. Disca - barulhinhos - desliga - disca - barulhinhos – desliga - disca - barulhinhos - desliga. Põe, em desespêro, as mãos na cabeça. Súbito, uma idéia irradia no seu rosto. Disca 00, o telefone toca-toca-toca-toca-toca-toca-toca, ninguém atende, desliga e disca de novo. Toca-toca, vem a voz - "telefonista de auxílio" - êle explica o caso - "nada posso fazer pelo senhor" - bate o fone. Chorando, disca o número do irmão, barulhinhos, desliga, enquanto uma voz de mulher, da sala ao lado, diz: "seu irmão telefonou avisando que fechou o negócio". Arremessou-se do 20º andar e caiu na vala das obras de expansão da CTB.

Correio da Manhã
02/02/1969

 
Fiscal fisgado
Correio da Manhã 14/01/1969

A mesma ilha
Correio da Manhã 15/01/1969

Bonnie sem Clyde
Correio da Manhã 16/01/1969

Imersão geral
Correio da Manhã 17/01/1969

Sinuca sangrenta
Correio da Manhã 18/01/1969

O homem-fome
Correio da Manhã 19/01/1969

Crime numa nota só
Correio da Manhã 22/01/1969

A receita do seu Zezé
Correio da Manhã 23/01/1969

A luta conjugal
Correio da Manhã 24/01/1969

O mistério do professor vermelho
Correio da Manhã 25/01/1969

Teatro Leve
Correio da Manhã 26/01/1969

O transplante
Correio da Manhã 28/01/1969

Idem idem
Correio da Manhã 29/01/1969

Cadê Zizi
Correio da Manhã 01/02/1969

Barulhinhos
Correio da Manhã 02/02/1969

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