Os rapazes estavam jogando pelada no terreno baldio, solitários, no crepúsculo de Botafogo. Afinal, um deles disse: "Já é noite, vamos parar, que mal se vê a bola". Todo mundo concordou e um deles deu um chute pro alto. A pelota subiu, dois ou três acompanharam a sua trajetória no pano de fundo celeste e, súbuto, notaram aquele objeto oblongo, intensamente luminoso, fazendo evoluções. "É o disco! O disco voador!" Misto de pânico e curiosidade. Não sabiam se corriam ou se escondiam-se. Vinha baixando e baixando, já agora, perto da terra firme, com as luzes apagadas. Todos agachados, olhando, um dêles palpitou chamar outras pessoas, enquanto outro logo atalhava; dizendo que, com gente demais, o disco iria embora. "E se nos matarem?' E se nos raptarem?" "Deixa disso" – “vamos ver o troço".
O disco, suavemente, foi-se aproximando e pousou no solo. Os olhos humanos arregalaram-se mais ainda. ''Que pena não termos uma máquina fotográfica, com flash" - sussurros - "estou com mêdo" - sussurros - "depois, ninguém vai acreditar que vimos o disco" - sussurros - "é, essas coisas só acontecem no interior, parece que é o primeiro que aterrissa no Rio" – sussurros - "tem razão" - sussurros - "cala a bôca!". Silêncio. Abrira-se uma portinha e, de dentro do objeto, emergia uma luz estranha. Saltou, cuidadoso, um ser baixinho, com uma roupa colante, aparentemente verde escuro. Veio andando, só, com algo empunhado na mão. "Deve ser a tal pistola de raios letais", comentou um. "Cala a bôca!" alertou outro. Afinal a coisa se iluminou e viram que era uma lanterna, uma prosaica lanterna. O homenzinho veio pisando leve. Já estava afastado uns cinqüenta metros do aparelho, dentro do qual, pelo visto, não havia ninguém mais. "Vamos a êle", palpitou um. "Sim, vamos ver se nos entendemos com o cara", concordou outro.
A lanterna do ser do outro mundo iluminou aquêle grupo de sêres maiores abobalhados. Começaram a rir e a fazer sinais de que não queriam maltratá-lo. O homenzinho verde achogou-se até uns cinco metros de distância da turma levou o indicador aos lábios e pronunciou: "caluda! caluda!" Esbugalharam-se no espanto. Indagou em português castiço: "podem me dizer onde fica a Rua Barão de Lucena?". Surprêsa: falaram: "ali, ali". "Querem tomar conta da nave, enquanto vou e volto?" "Pois não, pois não". Meia-hora depois retornava eufórico: ''Vinguei-me, viva! Vinguei-me". Agradeceu a todos, entrou na nave e disparou no espaço. No dia seguinte, os jornais notidavam o estrangulamento de um casal, na rua Barão de Lucena: motivo: ciúmes do ex-marido dela: procurava-se um homenzinho de verde. Voltaram todos ao lugar de pouso e fizeram , de joelhos, um juramento de silêncio: "a verdade é louca".
Correio da Manhã
21/05/1969