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Xerloque da Silva

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Jack, o estuprador

Encimando um chapéu de fêltro desbotado e amassado, com uma imensa pérola de fantasia espetada no tôpo, a mulher velhota, horrenda, mal tratada, parou diante do delegado e disse: "doutor delegado, estão querendo me estuprar". "Quem?" "É um rapazola belo e rico, que todos os dias, encosta o mustangue conversível rente a meio-fio e assobia quando me vê; ontem deixou esta ameaça com a minha empregada". Estendeu um papel amarrotado. O delegado leu - lá estava a promessa nua e crua no final: "vou estuprá-la". Devolveu o papelucho e falou: "estão brincando com a senhora, isto não se faz". "Brincando? como brincando? estou apreensiva". Conseguiu, depois de ingentes esforços, livrar-se da chatá. Comentou com um detetive: "só dá maluca, só dá maluca”. No dia seguinte, tiniu o telefone da delegacia: "sou a empregada do 432, um homem de capa acaba de sair daqui e fêz mal à patroa". Foram lá - era a velhota: "que loucura!", gemeu o delegado. "E ficou em estado de coma" - disse o médico legista - "não só foi estuprada, como desvirginizada". "Deus meu! tempos pagãos!"
Três dias depois, ocorria o mesmo com uma velhinha de 80 anos. E, assim sucessivamente, com outras e outras. Polícia zonza. A imprensa gastou laudas com Jack, O Estuprador. Nenhuma pista, a não ser o vulto de capa, às vêzes divisado. Ainda por cima, deixava sempre bilhetes, saudando a polícia. "Tarado!", murmurava o delegado de mau-humor, "o que é que êle ganha com isso?" Já fizeram um levantamento de todos os proprietários de mustangue na cidade, ou de seus motoristas habituais. E nada. Alibi geral. As medidas de segurança ampliavam-se no possível às mulheres solteiras de mais de 60 anos. Aí então, deu-se uma inversão de preferências: Jack iniciou a sua sequência com as meninotas. Seus bilhetes eram demiúrgicos: "vou realizar a minha tarefa de purgação por todos os lados". E assim, impune, prosseguiu a série diariamente. "Como é que êle aguenta?", perguntou um guarda. Depois, chegou a vez das mulheres casadas. Os maridos já sequer iam trabalhar, não saiam de casa. A imprensa não perdoava a ineficácia policial.
Um dia, estava o delegado lendo outro editorial., quando um homem magro, belo, entrou e disse: "sou Jack, o Estuprador, vim confessar e me entregar, minha missão chegou a têrmo." Num salto, o delegado gritou; "tragam o escrivão, logo! e as testemunhas, mesmo de viveiro!" Cantou solene, tim-tim por tim-tim, as centenas de estupros. Quando terminou, noite alta, foi tranquilo para a cela, depois de captado em todos os ânqulos por dezenas de fotógrafos. "Um louco! um neurótico"; repetia o delegado, "disse que estava satisfeito porque entrou para a história". Naquela madrugada, as duas da manhã, uma mulher linda, elegante, entra na delegacia: "quero ver Jack!" "A senhora é parente dêle?", pulou o delegado. "Não, estou encomplexada, ainda não fui estuprada e quero-o, antes que seja tarde e o levem para longe, para a penitenciária". "Essa não!", gritou. Meia hora depois, chegaram mais duas, fazendo idêntica reivindicação. Formou-se escândalo geral; mulheres em penca, de tôdas as idades, pululavam em tôrno do prédio. Não houve tempo para maiores medidas de segurança. Aos milhares, elas varamm a porta da cela e devoraram Jack, em holocausto

Correio da Manhã
20/05/1969

 
Fiscal fisgado
Correio da Manhã 14/01/1969

A mesma ilha
Correio da Manhã 15/01/1969

Bonnie sem Clyde
Correio da Manhã 16/01/1969

Imersão geral
Correio da Manhã 17/01/1969

Sinuca sangrenta
Correio da Manhã 18/01/1969

O homem-fome
Correio da Manhã 19/01/1969

Crime numa nota só
Correio da Manhã 22/01/1969

A receita do seu Zezé
Correio da Manhã 23/01/1969

A luta conjugal
Correio da Manhã 24/01/1969

O mistério do professor vermelho
Correio da Manhã 25/01/1969

Teatro Leve
Correio da Manhã 26/01/1969

O transplante
Correio da Manhã 28/01/1969

Idem idem
Correio da Manhã 29/01/1969

Cadê Zizi
Correio da Manhã 01/02/1969

Barulhinhos
Correio da Manhã 02/02/1969

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