Leiloeiro: "Agora, senhoras e senhores, vou por à venda esta peça preciosíssima, um abajur do século XVIII, da antiga Vila Rica, para o qual o lance mínimo deve ser de 10 mil cruzeiros novos."
Grã-fina de pallazzo: "Que rico!"
Grã-fina de courrèges: "Que beleza! Vá, Paulinho, compre-o."
Leiloeiro: "Silêncio, silêncio, por favor!"
Paulinho: "Dou dez."
Leiloeiro: "Quem dá mais? Quem dá mais? Notem todos que é a última oportunidade de se possuir uma peça de tal raridade."
Dr. Fulgêncio: "Dez mil e quinhentos."
Paulinho: "Onze, onze."
Bicheiro: "Dou doze."
Mulher de courrèges: "Vamos Paulinho, coragem! Morro se não ficar com êle."
Leiloeiro: "O cavalheiro lá no fundo está fazendo sinal? Quanto? Vinte? vinte - vinte dá o cavalheiro."
Banqueiro: "Quem é aquêle carequinha que deu êsse lance?"
Dr. Fulgêncio: "Não sei, nunca o tão gordo."
Grã-fina de pallazzo: "Não tem pinta de ser gente bem, vai ver que é algum nouveau riche ou dêsses suburbanos que acertaram na loteria."
Leiloeiro: "Quem dá mais? Quem dá mais?"
Banqueiro: "Vou esmagá-lo - dou quarenta!"
Carequinha: "Sessenta!"
Paulinho: "Setenta."
Banqueiro: "Oitenta!"
Marquês de Vautour: "Noventa!"
Antiquár-io: "Dou cem!"
Carequinha: "Cento e cinqunta!"
Multidão: ”Ah! Ah! Ah!"
Leiloeiro: "Que emoção! Alguém supera o licitante?"
Banqueiro: "Dou duzentos!"
Espôsa de usineiro: "óba, cheguei a tempo, dou duzentos e cinquenta!"
Banqueiro: "Dou trezentos!"
Antiquário: "Dou quatrocentos!"
Espôsa de usineiro: "Dou quinhentos!"
Carequinha: "Dou seiscentos!"
Leiloeiro: "Quem dá mais? Ninguém? Bem, então a peça foi arrematada por seiscentos milhões, pelo cavalheiro para o qual peço palmas - muito bem - o senhor vai pagar em dinheiro ou em cheque?"
Carequinha: "Não, não vou pagar, nem arrematei nada de verdade."
Leiloeiro: "O quê? O senhor está brincando? Pensa que eu sou palhaço?"
Carequinha: "Não penso nada, sou do Imposto de Renda e vim aqui observar os senhores todos e o valor dos arremates dados a êsse objeto supérfluo, para depois, comparar com as respectivas declarações de rendimentos."
Leiloeiro: "Meu Deus!"
Todos em côro: "Comunista! Comunista!"
(Pano lerdo)
Correio da Manhã
09/05/1969