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Xerloque da Silva

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O faz tudo

Já estava sentado há cêrca de duas horas no saguão do Departamento do Imposto de Renda. E esperava, esperava, abanando-se com o jornal. Passou um contínuo e perguntou-lhe o que ocorria, se, por acaso, não fôra convocado à toa para prestar esclarecimentos. O contínuo disse que nada podia informar. Passou mais meia hora, suava, suava. Afinal, uma megera, com sapatinhos sem salto, apareceu numa porta e chamou-o com a bôca escarlate de batôm suado: "sr. Herondino": Levantou-se e entrou. Estava sentado numa mesa imensa um homem de cara fria, com a gravata furta-cor desapertada, caída sobre a camisa branca. "Sente-se, por favor, vamos examinar a sua declaração de bens". Herondino obedeceu. Começa o interrogatório: "Há quanto tempo o senhor está casado?'" "22 anos". "Comunhão de bens?". "Sim". "Quantos filhos e dependentes?". "Dois". "Maiores ou menores de idade?". "Uma maior e o outro menor". "Onde o senhor trabalha?'' "Desculpe, doutor, mas creio que essas perguntas são desnecessárias, porque está tudo na minha declaração". "Limite-se a responder; onde trabalha?" Negócio com pescados e trabalho, também no Entreposto de Pesca". "Qual o seu rendimento mensal?" "Cerca de 800 contos". "Vamos, então, verificar, como é que adquiriu os bens - é proprietário de imóvel?" "Não, sou locatário". "Quanto paga de aluguel?" "Cento e vinte contos". "Há; Há" - só isso?'' "Pergunte ao meu senhorio, tenho aqui o telefone dele". "Como é que teve, mesmo assim, dinheiro para adquirir o seu barco?" "Fui eu que o construí". "Há, Há", e, então, como é que adquiriu os anzóis?" "Fui eu que os fiz". "Há, Há - e as iscas?" "Também fiz". "Há, Há - e quanto gasta por mês para alimentar a família?" "Gasto pouco, pois comemos quase sempre os peixes que eu pesco." "O senhor é bom pescador?" "Dá pra ir resistindo à vida"."Quais os peixes que costuma pescar?'' "Varia, às vezes, badejo, outras vezes, garoupa, noutras, vermelho e, além disso, crustáceos, ostras e outros frutos do mar". "O senhor faz tudo sózinho?". "Não, sou ajudado pelo meu filho e alguns amigos". "Paga a eles pelo serviço?" "Evidente." "E como transporta os peixes?" "Na minha carrêta de mão". "Como a adquiriu?" "Fui eu que a fiz". "Há, Há, e onde e como comprou esse magnífico cinto de couro que o senhor está usando?" "Fui eu que fiz". "Há, Há, então o senhor faz tudo?" Sim, seu crápula, inclusive esse facão que lhe vou enterrar no peito - agora!!!

Correio da Manhã
04/02/1969

 
Fiscal fisgado
Correio da Manhã 14/01/1969

A mesma ilha
Correio da Manhã 15/01/1969

Bonnie sem Clyde
Correio da Manhã 16/01/1969

Imersão geral
Correio da Manhã 17/01/1969

Sinuca sangrenta
Correio da Manhã 18/01/1969

O homem-fome
Correio da Manhã 19/01/1969

Crime numa nota só
Correio da Manhã 22/01/1969

A receita do seu Zezé
Correio da Manhã 23/01/1969

A luta conjugal
Correio da Manhã 24/01/1969

O mistério do professor vermelho
Correio da Manhã 25/01/1969

Teatro Leve
Correio da Manhã 26/01/1969

O transplante
Correio da Manhã 28/01/1969

Idem idem
Correio da Manhã 29/01/1969

Cadê Zizi
Correio da Manhã 01/02/1969

Barulhinhos
Correio da Manhã 02/02/1969

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