Quando o táxi apareceu na curva, fêz sinal. O motorista parou, ele entrou e disse: "Vamos para a Rua do Ouvidor." Bateu a porta, sentou-se e aduziu: "Se puder, chefe, um pouquinho depressa porque tenho um encontro daqui há pouco." O chofer balançou a cabeça e perguntou: "Pegamos a Avenida Atlântica?". "Sim, acho melhor." Mas demoraram 4 minutos para chegar até a praia, por causa de três sinais desconjugados. Quando entraram na Atlântica, ele comentou em tom de alívio: "Até que enfim, mas agora vai ser mais fácil." Sonoro engano; em frente do cinema Rian, já estava tudo engarrafado. Além disso, eram 10 e meia da manhã e o retorno da mão dupla dificultava as coisas. "Por que isso?" Intranquilidade. Um minuto depois, pode divisar a causa do engarrafamento: era um imenso caminhão de faixa amarela estacionado ao lado da praia. Indagou: "Porque o DLU faz a limpeza logo a esta hora de maior movimento?" O chofer, estóico, sacudiu os ombros. Desviado o carro para a fila do meio, mais um pequeno engarrafamento. Era um carro que, parado - e embora fosse proibido dobrar à esquerda - esperava uma chance para entrar na rua transversal. Buzinório intermitente. Rugiu. "Ninguém obedece porque não há um guarda." Afinal o carro entrou e seguiram até o fim da Atlântica, entrando na Princesa Isabel. O suspiro de alívio foi cortado em pleno túnel, com outro engarrafamento. Respirava com dificuldade e urrou: "Mas o que é isso?" Diz o motorista: "O senhor não sabe? O Departamento de Trânsito estreia hoje a operação tatu, que está sendo feita na Avenida Pasteur" "O quê? E agora? Por que o senhor não me preveniu?" "O que adiantaria?" "Iríamos pelo Rebouças" "Lá está pior: estão fazendo a operação cavanhaque." "Meu Deus, que loucura!" Nessa altura, começou a tossir furiosamente. Os carros permaneciam imóveis dentro do túnel sem avança um milímetro. Buzinas e fumaça com intensidade feroz. Saiu desvairado do carro, tendo deixado dois contos no colo do chofer. Esqueirou-se entre os veículos e foi sair em Botafogo. Panorama tétrico: só via um mar de automóveis e ônibis pela frente. Chegou à calçada e passou a gritar: "Vou perder minha mulher por causa desse trânsito!" Vem um homem e pergunta: "O que houve?" "Minha mulher tinha-me dado um prazo para provar minha fidelidade senão iria embora com outro. A prova está no meu bolso, mas perdi a hora por causa do engarrafamento." Dito isso, deu um arranco para trás, puxou um revólver e estourou as têmporas. O guarda que revistou o paletó encontrou este bilhete: "Lillian, o seu marido é de fritar bolinhos." Assinatura oficialmente ilegível.
Correio da Manhã
06/02/1969