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Xerloque da Silva

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Besouro que vale ouro

O fato é verídico: dias atrás, descobriram a manobra de funcionários de uma emprêsa de ônibus que, ao fim de cada jornada, utilizavam besouros amestrados para entrarem na caixa de cada um dos veículos e retirarem as fichas. Com isso, podiam os requintados arquitetos do plano original surrupiar uma fatia da féria (geralmente uma média de 100 cruzeiros novos diários) em favor dos respectivos bôlsos, como sempre magros e vazios. O operação era simples: enfiavam-se os besouros caixa adentro e, depois, atraíam-se os insetos para cima. Estes últimos catavam as fichas com as garras e assomavam com elas. Repetia-se a manobra em doses comedidas, de modo que fôsse suficiente ao ganha-pão extra de todos e, em paralelo, nem se causasse desconfiança com o êxodo exagerado das fichas e nem se cansasse em demasia os preciosos insetos que não podiam permanecer ameaçados de estafa ou saturação.
Agora, os domadores de besouros estão presos. Mas ficam as indagações: que fim levaram os besouros? Estarão também detidos? Ou então paira o receio de haverem sido simplesmente soltos - o que representa um desperdício, sob muitos aspectos. Quêm sabe, êsses espécimes, tal como os golfinhos (muito empregados nas atuais experiências de americanos e soviéticos com vistas à transmissão de informações), sejam outros sêres humanos habilitados a desenvolver uma atividade simbólica, isto é, relacionar as coisas; de livrarem-se do mundo de Pavlov e de entrar no de Wiener, o papai da cibernética.
Quem sabe não valeria a nós (que já possuímos de graça os bichinhos) montar uma espécie de besourolândia, sob o atendimento contínuo dos técnicos em genética de insetos? Estimular-lhes o desenvolvimento intellectual e biológico? Em quantas atividades não poderiam eles dar a sua valiosa e refinada contribuição? Já se imaginou, com relação ao campo tão expansivo atualmente da espionagem, o que não fariam apenas em matéria de furto de documentos? Um gabinete hermeticamente fechado: enfia-se o besouro por debaixo da porta, êle vai célere, gadunha a fôlha de papel e devolve-a pela mesma fresta. Ou então, sai voando com ela entre as garras, qual minipombo-correio, e aterrissa zumbindo eufórico na mesa do seu mestre. Este, exultante, há de jazer-lhe uma festinha no casco.
Um refôrço para qualquer modalidade de investigação. E o detetive de chapéu xerloquiano e cachimbo curvo - tal qual - aquêles caçadores de falcão no ombro -, sairia em ação com o inseto na lapela. Vê-se, assim, que a iniciativa pioneira dos ladrões de féria despenca uma miríade de sugestões. Não se trata de fantasia: chegou a era do besouro, que é prático, dócil e portátil. Não mais o bezerro de ouro e, sim, o besouro de ouro.

Correio da Manhã
22/02/1969

 
Fiscal fisgado
Correio da Manhã 14/01/1969

A mesma ilha
Correio da Manhã 15/01/1969

Bonnie sem Clyde
Correio da Manhã 16/01/1969

Imersão geral
Correio da Manhã 17/01/1969

Sinuca sangrenta
Correio da Manhã 18/01/1969

O homem-fome
Correio da Manhã 19/01/1969

Crime numa nota só
Correio da Manhã 22/01/1969

A receita do seu Zezé
Correio da Manhã 23/01/1969

A luta conjugal
Correio da Manhã 24/01/1969

O mistério do professor vermelho
Correio da Manhã 25/01/1969

Teatro Leve
Correio da Manhã 26/01/1969

O transplante
Correio da Manhã 28/01/1969

Idem idem
Correio da Manhã 29/01/1969

Cadê Zizi
Correio da Manhã 01/02/1969

Barulhinhos
Correio da Manhã 02/02/1969

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