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Xerloque da Silva

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Invasão de bárbaras

O mistério das abelhas africanas permanece já há cêrca de três anos, pelo menos. Ninguém esclarece nada a seu respeito, sôbre sua proveniência. Serão do Congo? de Pretória? Vítimas do apartheid?
Só se sabe que elas atacam. E como atacam. De surprêsa. A última vez foi aqui mesmo, do outro lado da Baía, em Niterói, vitimando foliões em pleno carnaval. Deduz-se que elas não brincam, mesmo durante o carnaval.
Investem de surprêsa e raramente são vistas antes de suas cargas de brigada ligeiríssima. E como fazem estrago. Já dizimaram uma fazenda. De outra vez, realizaram um ataque espetacular: cercaram um casarão e o dono, parentes e empregados trancaram-se tá dentro. Elas ficaram esperando e quando abriram a porta foi aquêle enxame enfurecido irrompendo e picando a torto e a direito.
São realmente subversivas. Matam homens e bichos, destroem colheitas e plantações. Enfrentam com denôdo os lança-chamas do corpo de bombeiros e morrem com aquêle prazer pagão de ter estado na guerra, como se lê na Iliada, de Homero. Muito fel e pouco mel. Não são efetivamente abelhas dados ao amor.
Resta saber se resistiremos. Ainda mais que existe o perigo de se tratar de sêres de fácil e repetida proliferação, de generosa fecundidade. Quem· sabe? Uma abelha numa centelha - ou pior, uma centena numa centelha. E estão pertinho da Guanabara. Aí está a prova com o ataque da Avenida Amaral Peixoto. É só se decidirem a atravessar as águas que separam fluminenses de cariocas, sem precisarem de aguardar pela ponte do coronel Andreaza.
E então, como vai ser? Basta recordar que, a fim de dar combate àquêle mísero, ínfimo, minúsculo pulgão, o tal de lacerdinha, foi uma campanha de anos e anos e que ainda não terminou. Com elas será mil vêzes mais difícil. Não se pode usar as armas convencionais com que se combate a maioria dos insetos. Além disso, é necessárió uma nova tática uma nova estratégia e, até mesmo, a descoberta do objetivo, isto é, saber onde moram. Ou melhor, como não são sedentárias feito as outras da espécie e, sim, nômades, como os hunos de Átila, saber onde se escondem.
Imagine-se que, um triste dia, podem atacar o Maracanã, com multidão de jôgo de Fla-Flu. Que pânico. Ou, com mais modéstia, apenas os jogadores, juiz e bandeirinhas. Haverá briga da Federação Metropolitana de Futebol e as manchetes dirão: Invasão de Bárbaras.

Correio da Manhã
23/02/1969

 
Fiscal fisgado
Correio da Manhã 14/01/1969

A mesma ilha
Correio da Manhã 15/01/1969

Bonnie sem Clyde
Correio da Manhã 16/01/1969

Imersão geral
Correio da Manhã 17/01/1969

Sinuca sangrenta
Correio da Manhã 18/01/1969

O homem-fome
Correio da Manhã 19/01/1969

Crime numa nota só
Correio da Manhã 22/01/1969

A receita do seu Zezé
Correio da Manhã 23/01/1969

A luta conjugal
Correio da Manhã 24/01/1969

O mistério do professor vermelho
Correio da Manhã 25/01/1969

Teatro Leve
Correio da Manhã 26/01/1969

O transplante
Correio da Manhã 28/01/1969

Idem idem
Correio da Manhã 29/01/1969

Cadê Zizi
Correio da Manhã 01/02/1969

Barulhinhos
Correio da Manhã 02/02/1969

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