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Xerloque da Silva

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O computador doido

À inauguração do nôvo prédio da sede do Banco vieram centenas de convidados, além de autoridades, imprensa escrita, falada e televisada. O presidente do Banco discursou e apresentou ao público presente o cofre da instituição. Disse que aquêle imenso compartimento possuía porta maciça de aço, secundada por mais uma de barras. Disse que a porta era imune a qualquer objeto cortante, elétrico ou não, bem como a qualquer modalidade de explosivos. Enfim revelou que todo o sistema de alarmes era controlado por um computador inteligentíssimo, rapidíssimo, o BIP 707, o guardião dos 30 trihões de cruzeiros do cofre. E, após sorver outro traqo de champanha, tranquilizou os clientes e depositantes: "Nem a Bomba H abre o cofre." Palmas, salgadinhos.
Dois dias depois, o Banco foi silenciosamente assaltado, o cofre silenciosamente aberto, sumindo os trinta trilhões. O presidente, além do enfarte de ocasião ficou grisalho em trinta segundos. Perplexidade geral. Foram todos consultar o grande culpado do fracasso, o BIP 707. Para espanto geral, êste enlouquecera, o seu estado, emocional era assustador. Só fazia repetir: "Meu Deus! Meu Deus!" Pânico. O presidente sofre nôvo enfarte. O ruído da sirena de sua ambulância choca-se com o àa sirena do carro do delegado, esbaforido. Já tomara tôdas as providênciàs humanas: prisão de suspeitos, fechamento de barreiras, fiscalização das notas. Nada. Eliminada também a hipótese de terrorismo. O vice-presidente deu urn palpite brilhante: "Desconfio do computador". O delegado deu um pulo: "Quem sabe? Quem sabe?". Colocaram o gêmeo do computador, o BIP 007, a fim de interrogá-lo: "Só êle'' , diziam os técnicos. Nada. O BIP 007 disse que o BIP 707 estava de boa-fé e doido no duro. Tentaram curá-lo co, choques de tranquilizantes eletrônicos. E nada. "O único sintoma que desvendo, senhor delegado, é o do choque cultural", foi o parecer do BIP 007. Eis que um guri invade a delegacia e fala que viu os tripulantes de um disco voador assaltarem o Banco. Tinha fugido de casa pela madrugada e vira o objeto aterrar com três pés e, da carlinga côncava, saltaram cinco homenzinhos verdes, que entraram no Banco, apertando pistolas na mão. "O resto foi simples'', arrematou. Zombaria, palmadas. Por via das dúvidas, dois dias depois aterrava um técnico da NASA. Ouviu o guri e disse: "Perfeito, foi o pessoal do disco mesmo." O presidente teve nôvo enfarte. E o BIP 707; em holocausto, suicidou-se. Banqueiros em pânico.
Um ano após, o presidente vagava só, à noite, diante do Banco, quando o objeto estranho pousou e um homenzinho verde emerge empurrando a carrêta abarrotada de notas. "Meu Deus!" O homúnculo indaga, em portugues castiço: "O senhor é daí?" "Sim, sim!'' "Tome de volta as notas, são falsas, roubaram o dinheiro antes de nós." Mais um enfarte e o seu corpo acolchoou-se sôbre o monte de cédulas.

Correio da Manhã
26/02/1969

 
Fiscal fisgado
Correio da Manhã 14/01/1969

A mesma ilha
Correio da Manhã 15/01/1969

Bonnie sem Clyde
Correio da Manhã 16/01/1969

Imersão geral
Correio da Manhã 17/01/1969

Sinuca sangrenta
Correio da Manhã 18/01/1969

O homem-fome
Correio da Manhã 19/01/1969

Crime numa nota só
Correio da Manhã 22/01/1969

A receita do seu Zezé
Correio da Manhã 23/01/1969

A luta conjugal
Correio da Manhã 24/01/1969

O mistério do professor vermelho
Correio da Manhã 25/01/1969

Teatro Leve
Correio da Manhã 26/01/1969

O transplante
Correio da Manhã 28/01/1969

Idem idem
Correio da Manhã 29/01/1969

Cadê Zizi
Correio da Manhã 01/02/1969

Barulhinhos
Correio da Manhã 02/02/1969

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