jlg
Xerloque da Silva

  rj  
O vampiro

Festa na mansão da Gávea. A convidada de vestido azul, cêrca de uma e meia da madrugada, foi dar uma volta solitária em tôrno da piscina. Parou, mirando, a placidez da água azul estrelada. Uma sombra cobre o panorama líquiqo - olha para trás - um vulto esbelto de capa negra - rictus na face, caninos alentados.
No dia seguinte, quando a dona da casa, mais ou menos ao meio-dia, ainda tornada pela ressaca, foi fazer um footing despretensioso em tôrno da piscina, viu-a tombada, numa das bordas, olhar de extase, com dois furinhos no pescoço. Berros. Polícia.
As manchetes berravam mais ainda em tinta preta: O VAMPIRO DA GÁVEA. Sucesso. Todo mundo queria conhecer a casa, mais ainda a piscina fatal. Lá estava, testemunha límpida. A vítima virara zombie: vagava em casa, de braços abertos para o além, com o marido, ofegante, marchando atrás. Quiquinha, a dona da mansão, quis dar nova festa. O marido tremeu: "Não vês o perigo?" Sorriu lúcida: "Não vês o sucesso social?" A única coisa que êle pôde fazer foi também convidar a polícia.
Dona Quiquinha tinha razão. A festa estava um êxito redobrado. Não faltaram convidados, daqui e do exterior. Além dêles, jornalistas e a proverbial polícia. Duas orquestras executavam música suave ao luar enquanto uma outra acionava o charleston no salão. Mas, às cinco da manhã, a decepção era geral - nada do vampiro. Os cronistas sociais já rascunhavam as notúnculas mais sibilinas possíveis. Meia hora depois que o último convidado partira, de mau humor assim como os demais, é que dona Quiquinha viu a notícia: sua cozinheira - 40. anos, mulata, corpo de violão - estava caída à beira da cama, com os dois clássicos furinhos na nuca. Sensação. Entrevistas. Policia. Sucesso total.
O dr. Kraus, convocado com urgência, baixou de um jato da Transilvânia e hospedou-se na mansão. A cozinheira estava recolhida num asilo público. Para o dr. Kraus era extremamente estranho que vampiros florescessem num país tropical. Ainda mais no verão. Não atinava com nada, mas reconhecia: "É êle, sim, não há dúvida." A festa seguinte provocou um cinturão de homens fardados em volta da mansão. E a sua missão era de também barrar os penetras. Música, bebidas, expectativa. Luzes apagam - pânico e euforia. Corre-corre da polícia. Em vão: o marido de dona Quiquinha estava caído na escadaria, com dois furinhos no pescoço. Arquejava - flashes - arquejava -flashes. Duas semanas depois, Quiquinha anunciava o seu desquite e arrematava: "Vou me isolar do resto do mundo e viver solitária na Gávea." "Vamp, Vamp" gritou a opinião pública.

Correio da Manhã
05/03/1969

 
Fiscal fisgado
Correio da Manhã 14/01/1969

A mesma ilha
Correio da Manhã 15/01/1969

Bonnie sem Clyde
Correio da Manhã 16/01/1969

Imersão geral
Correio da Manhã 17/01/1969

Sinuca sangrenta
Correio da Manhã 18/01/1969

O homem-fome
Correio da Manhã 19/01/1969

Crime numa nota só
Correio da Manhã 22/01/1969

A receita do seu Zezé
Correio da Manhã 23/01/1969

A luta conjugal
Correio da Manhã 24/01/1969

O mistério do professor vermelho
Correio da Manhã 25/01/1969

Teatro Leve
Correio da Manhã 26/01/1969

O transplante
Correio da Manhã 28/01/1969

Idem idem
Correio da Manhã 29/01/1969

Cadê Zizi
Correio da Manhã 01/02/1969

Barulhinhos
Correio da Manhã 02/02/1969

84 registros
 
|< <<   1  2  3   >> >|