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Xerloque da Silva

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Fatalidade

O seu casamento havia sido um sucesso: igreja lotada, gente bem, noiva linda, recepção estrondosa, lua-de-mel em Paris. Um mês depois, foi traído: a mulher fugira com um dos seus amigos. Desquite, manchetes.
Três meses depois, casou-se novamente com outra fina flor da alta sociedade. Foi traído em plena lua-de-mel em Veneza: a sua mulher entregara-se a um gondoleiro musculoso. Desquite.
Esperou mais um ano e casou-se com uma famosa atriz do cinema. Traído seis dias depois e, dessa vez, o comparsa do ato foi o seu mordomo de confiança. Desquite.
Intrigado, passou um ano solteiro. Não resistiu d solidão. Foi buscar a nova espôsa na figura de linda virgem recém-egressa de um convento. Casamento. Duas semanas foram o bastante para encontrá-la nos braços do bombeiro em sua própria cama. Desquite.
Depois disso, tentou mais dois casamentos e já foi com fleugma e, até bons modos, que veio a tratar os amantes das espôsas, quando os surpreendeu em flagrante. Dois. desquites.
Caiu decididamente no complexo. O psicanalista não encontrava motivo algum em sua personalidade que fosse capaz de desfechar tantos adultérios. Não era homossexual, nem tampouco cultivava a macheza provinciana. Além disso, era rico, bonito, fino, requintado, elegante, de boa e discreta família.
Por isso mesmo, tempos depois, lia-se um anúnico de quatro colunas nos melhores jornais da cidade: "Milionário procura para casamento imediato mulher bem feia e pobre. Garante dinheiro, luxo e viagens em volta do mundo. Exige fidelidade total." No mesmo dia, uma fila de megeras diante da porta do seu palacete era coordenada pelo nôvo mordomo. Escolheu a pior: esfarrapada, horrenda, suja, estrábica, voz fanhosa, nanica, flácida. "Vamos casar já" - e puxou-a pelo braço torto. "Agora, posso viver tranqüilo e sem complexos", pensou
Uma semana depois, encontrou-a nos braços do caixeiro, no quarto da empregada. "Meus Deus! Mas, como? E como é que você teve coragem e estômago para tanto?" "Meu senhor, ela me deu êsse colar de brilhantes para que eu fizesse isto com ela." Chutou a nanica porta a fora e passou o resto do dia dando voltas em torno da casa. De repente, teve uma idéia fulminante: ligou para uma mulher casada e marcou a hora do adultério. "Meu amor - dizia a voz dela pelo fio - esperei 15 anos por isso." Euforia. O marido os pegou e rachou o peito dêle a tiros.

Correio da Manhã
06/03/1969

 
Fiscal fisgado
Correio da Manhã 14/01/1969

A mesma ilha
Correio da Manhã 15/01/1969

Bonnie sem Clyde
Correio da Manhã 16/01/1969

Imersão geral
Correio da Manhã 17/01/1969

Sinuca sangrenta
Correio da Manhã 18/01/1969

O homem-fome
Correio da Manhã 19/01/1969

Crime numa nota só
Correio da Manhã 22/01/1969

A receita do seu Zezé
Correio da Manhã 23/01/1969

A luta conjugal
Correio da Manhã 24/01/1969

O mistério do professor vermelho
Correio da Manhã 25/01/1969

Teatro Leve
Correio da Manhã 26/01/1969

O transplante
Correio da Manhã 28/01/1969

Idem idem
Correio da Manhã 29/01/1969

Cadê Zizi
Correio da Manhã 01/02/1969

Barulhinhos
Correio da Manhã 02/02/1969

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