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A segunda "Avant-Garde"

O que caractetiza a chamada "segunda avant-garde", em contraposição à primeira, e que compreende os filmes realizados com o objetivo "de um mais completo exame dos recursos da linguagem e da técnica, uma busca no terreno pictórico de novas formas, e uma bem viva consciência de ritmo", segundo Jacques B. Brunius, um dos especialistas no estudo dessa importante fase do cinema francês. A tendência da primeira, ao contrário, se inclinava para renovação e maior amplitude do argumento, a partir das possibilidades que pouco a pouco iam aumentando em paralelo ao desenvolvimento dos meios de expressão.
Atravessava-se um período de constante ebulição de vanguardas âmbito de diversas artes. Os falados "ismos": expressionismo, futurismo, dadaísmo, surrealismo, suprematismo, construtivismo, abstracionismo, cubismo, letrismo, orfismo. Muitos artistas aproveitavam para, pelo menos en Passant, transferirem seus experimentos à esfera daquela que já se apresentava como "a sétima arte": Dali, Léger, Van Doesburg, Picabia, Duchamp, Artand, Erik Satie, Cocteau, Desnos, Mallet-Stevens etc. O cinema já, era percebido como evidente ponto de convergência de outras manitestações artísticas: a pintura, o teatro, o romance, a música, a dança, a arquitetura e, para alguns, até a poesia. De tôda a peregrinação, de tôda a efervescência, sobraram algumas contribuições esparsas de real interêsse, apesar do cunho amadorístico que pautou a maioria das incursões. Se não havia a opção pela sistemática, via o paulatino domínio da nova linguagem estética, "a arte do século", segumlo Lenine – tal o caso da pesquisa de valôres plásticos proporcionada pelo expressionismo alemão ou de um cinema eminentemente rítmico praticado pelos soviéticos à base do conflito de imagens, e, pelos americanos à base, principalmente, de um esquema de continuidade - trouxe a avant-gard francesa, no entrecruzar de múltiplas tendências, num autêntica pot-pourri de métodos e recursos, empregados geralmente sem maior discernimento estrutural, o despertar definitivo de outra mentalidade no encarar a realização de filmes. Nasceu uma crítica imediatamente aplicada a seus problemas, conforme os artigos de Louis Dellue já prenunciavam.

Quem assistiu ao sexto programa do Festival do Museu de Arte Modena, pôde constatar facilmente essa heterogeneidade de sentido nos diversos experimentos do que vem rotulado como "segunda avant-garde”.

AUTANT-LARA

De início tivemos “Fait.s Divers" (1923), de Claude Autant-Lara, cineasta que chegou no último pós-guerra a construir um quase-clássico, "Adultera” (Le Diable au Corps), além de um vaudeville extremamente dinámico e divertido "Meu amigo, Amélia e eu” (Occupe-Toi D'Amélie), e duas fitas de costumes com bastante sabor, "Dulce" (Douce) e "O casamento de Chiffon”, agora se encontra em fase de aparente declínio. “Faits-Divers” ao contrário de muitas outras fitas da época experimental, apresenta um evidente anseio de organização - conjugar os recursos em um processo de relações. Os principais recursos são a constância de primeiros-planos fusões etc., e uma repisada utilização do detalhe. Seu fio condutor e um pequeno enrêdo na regra de triângulo passional, à base de contra-pontos com imagens da cidade e uma sequência visualizando o pensamento de um dos personagens.

RAY & LEGER

Já os famosos “Retour à la Raison", de Man Ray, e “Ballet Mecanique” de Fernand Leger, um dos mais importantes pintores cubistas (ambos de 1923), não enfrentam diretamente uma contingência estrutural. O título-chave, no caso de Man Ray, não compensa como num quadro de Klee o desenvolvimento em flagrante desintegração relaciontal das imagens, em sua maioria abstrata ou “abstrações". A perspectiva de um cinema, inteiramente desligado de referência à realidade, não deixa de ser uma das vertentes exponenciais da sétima arte e até agora pouco explorada por motivos de ordem econômica. Isso, entretanto, mais ainda do que o filme de caráter anedótico, pressupõe uma racionalização no uso dos elementos de construção, sob pena do conjunto se perder numa aglomeração disforme no acionamento de efeitos díspares de ambiguidade antifuncional.
O que se viu no "Ballet Mecanique” - apresentado em letreiro como "extrato” do filme de Léger -, opera num campo mais objetivo de formas. Mas não há um sentido de integração, não há um ritmo definido. Existe uma pluralidade de subdivisões rítmicas alcançando, as vezes, pequenos achados, mas nesse complexo de movimentos, internos ou externos, não encontramos uma proposição funcional de conjunto.

"ENTREATO"

"Entracte", de René Clair, é considerado por muitos o grande filme "dada. Foi realizado em 1924 sobre script de uma das mais conhecidas figuras do movimento dadaísta: Francis Picabia. Consistia o roteiro de duas páginas contendo indicações sumárias, que, no momento da realização, o diretor foi ampliando e desenvolvendo. De acordo com Georges Sadoul, qualquer "explicação" da película merece desprezo. "A verdadeira chave de "Entreato" é a poesia dadaista, seu gôsto por metáforas surpreendentes e ilusórias". O próprio Picabia aparece em algumas cenas assim como Erik Satie, Marcel Duchamp e Man Ray.
A última sequência dessa admirável criação de Clair é antológica e leva o humor cinematográfico ao mais elevado plano: o entêrro, a princípio em câmara lenta, acompanhado pelos participantes a passo de ballet, depois em louca disparada pelas estradas, culminando com a queda e rompimento do caixão, quando o morto, que se levanta, e em passe de mágica faz desaparecer seus circundantes e a si mesmo.

AÇÃO DE CAVALCANTI

A contribuição do brasileiro Alberto Cavalcanti nessa fase da evolução da sétima arte na França foi indiscutível. "Rien que les Heures” de 1924, seu segundo filme, desenvolve uma linguagem que seria mais tarde melhor filtrada pelo documentário. A fita ainda obedece a um critério de ficção. Narra, mediante ações paralelas, a vida de uma cidade, através de diversos aspectos e de alguns tipos humanos em seu afã cotidiano. Há sempre um certo apuro visual para cada cena ao lado de um esfôrço de ritmo.
Sem resultar em obra de grande envergadura, sem ser tão “experimental" quanto os outros filmes incluídos na "Segunda Avant-Garde", é um dos melhores êxitos desse período.

Tribuna da Imprensa
21/08/1959

 
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Revista Leitura 30/11/-1

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Jornal do Brasil 17/03/1957

Robson-Hitchcock
Jornal do Brasil 24/03/1957

Ingmar Bergman - V
Jornal do Brasil 24/03/1957

Ingmar Bergman - VI (conclusão)
Jornal do Brasil 31/03/1957

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Jornal do Brasil 07/04/1957

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A trajetória de Aldrich
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