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Ingmar Bergman

Ao propor a postulação dos principais atores que atuam positivamente na estética de Bergman não nos podemos furtar, de início, a chamar a atenção para sua obsessiva paixão pelo enquadramento e composição. Todas as cenas são confeccionadas com um rigor poucas vêzes notado até então. Procura ele tirar do "décor" o máximo de suas possibilidades plásticas, possuindo, além disso, um acurado senso no contrôle de iluminação do detalhe.
Nesse ponto é que se deve observar um fator da mais alta relevância em seu esteticismo – o ultrapassar dos efeitos de montagem pela "qualidade'' do "shot". Não queremos dizer, com isto, que o cineasta sueco desdenhe da função montagem, o que seria absurdo por ser esta de natureza orgânica para qualquer processo de elaboração da linguagem cinematográfica. Ocorre que, ao contrário de um Eisenstein, por exemplo (o maior teórico de montagem, aliás), não é o efeito proveniente dos recursos de montagem que incide imediatamente como elemento direto a atuar na sensibilidade do espectador, no papel de agente de impacto emocional. A não ser dentro de seus recursos acessórios - um corte deliberadamente utilizado para funcionar em dado momento - a montagem permanece em sua função estrutural, condicionando justamente a eclosão dos efeitos provocados pelo incansável perscrutar da câmera.
Surge, por conseguinte, um fenômeno que vem novamente situar Bergman em posição bem distinta da grande maioria dos realizadores até então aparecidos. Dentro dessa sua rigorosa manipulação do enquadramento e da composição, valorizando consequentemente a função do "décor" e da iluminação, êle atinge em cada filme, ao contrário de quase todos os "metteurs en scène", a superação do que poderíamos chamar de uma energia visual nas cenas de interiores.
A cena em exteriores, com a concepção paisagística inerente à sua projeção, sempre foi um campo aparentemente mais fácil, e consequentemente mais explorado, quando necessário era uma maior amplificação temática em função das possibilidades da simbologia contida puramente nos efeitos plásticos. Porém, no caso em que o momento de detonação do elemento simbólico esteja preajusta-do a uma visualização estática, não existe tal imposição. E é nisso que Bergman rompe com uma longa tradição na qual se pautava a orientação de grande maioria de responsáveis pelo roteiro.
Claro que em condições opostas, quando essa visualização se mantém adstrita a um sentido de movimento de massas, dinâmica portanto, torna-se forçosa aquela concepção de amplitude a ser proporcionada pela cena. Bergman entretanto não é um épico; no sentido de que a acepção de expansão, ligada a êsse conceito, não está vinculada à, periferia de suas obras. Poucas vêzes manuseia com as massas num sentido dinâmico, nem possui uma preocupação imediata com as repisadas variações panorâmicas ensejadas pelos exteriores. Seu problema é o individuo; e a reação do meio vem geralmente simbolizada na atitude de determinado personagem, que também muitas vêzes surge com foros de entidade mítica. É o Copelius de "Juventude, Eterno Tesouro" ou o velho que susta o suicídio do desesperado espôso no primeiro episódio de "Enquanto as Mulheres Esperam".
Porém, exatamente para assinalar o que anteriormente já sublinháramos, que êle procura sempre se renovar, nunca se repetir, que, justamente, a melhor sequência que construiu e talvez, a melhor que tivemos ocasião de apreciar até hoje, em tudo a que já nos foi dado assistir em cinema, apóia-se principalmente em efeitos imediatos de montagem e foi filmada em exteriores. Referimo-nos à inesquecível passagem de "Noites de Circo", em que o palhaço vai buscar a espôsa que se banhava diante dos soldados em manobras, encerrando-se admiràvelmente com um marcar sonoro de sua volta - apenas o vulto, com a mulher nos braços, caminhando trôpego - o cenário estático, as linhas de composição, simples; uma autêntica reedição do calvário. Nesse trecho, assume a montagem um papel da mais alta relevância: a perfeita utilização dos cortes, a impressionante interseção dos planos com a gradação dos "shots", o "close-up" brusco significativo; tudo compassado pelo extraordinário acompanhamento musical expressionista de Karl Bigger Blondhau. Tal sequência é, sem dúvida, um dos pontos; mais altos que atingiu o cinema.

Jornal do Brasil
03/03/1957

 
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Revista Leitura 30/11/-1

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Jornal do Brasil 17/02/1957

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Jornal do Brasil 24/02/1957

Ingmar Bergman
Jornal do Brasil 03/03/1957

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Jornal do Brasil 03/03/1957

Ingmar Bergman - IV
Jornal do Brasil 17/03/1957

Robson-Hitchcock
Jornal do Brasil 24/03/1957

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Jornal do Brasil 24/03/1957

Ingmar Bergman - VI (conclusão)
Jornal do Brasil 31/03/1957

Cinema japonês - Os sete samurais
Jornal do Brasil 07/04/1957

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Jornal do Brasil 21/04/1957

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Jornal do Brasil 16/06/1957

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Jornal do Brasil 30/06/1957

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