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O tempo e o espaço do cinema

NOTA: Vsevolod Pudovkin forma, juntamente com Eisenstein, o duo de cineastas mais importantes do cinema russo, tendo ambos contribuído para que se imprimisse um inestimável impulso na evolução estética dessa arte na União Soviética.
Alguns de seus filmes contam-se entre os clássicos da sétima arte, podendo-se lembrar "Tempestade Sobre a Ásia", "A Mãe" - extraído do célebre romance de Máximo Gorki -, "O Fim de S. Petesburgo" e "A Volta de Vassili Bortnikov", esta realizacão levada a efeito em 1953.
Foi também um grande teórico, tendo publicado uma série de ensaios e artigos:. "O Ator no Cinema", "A Técnica do Filme", "Direcão e Cenário do Filme" etc.
''O Tempo e o Espaço do Cinema" constitui trecho de seu ensaio "O Diretor de Películas".


Através da câmera, dominada pela vontade do diretor, nasce, uma vez cortados e unidos os diferentes fragmentos filmados, um tempo novo: o tempo cinematográfico. Não equivale ao tempo real, necessário para o transcurso da ação verdadeira no momento de seu desenvolvimento frente à câmera, mas constitui um tempo novo e cinematográfico, adaptado à rapidez da percepção e à quantidade e duração dos elementos escolhidos para a reprodução cinematográfica da ação.
Tôda ação não somente possui um desenvolvimento segundo o tempo, mas também de acôrdo com o espaço. O tempo cinematográfico distingue-se do tempo real pelo fato de depender exclusivamente do comprimento dos diferentes fragmentos de celuloide combinados pelo diretor. Do mesmo modo que o tempo, assim também o espaço cinematográfico se relaciona com a tarefa cinematográfica "par excellence": a montagem. Para a composição dos diferentes fragmentos, o diretor forma seu próprio espaço, inteiramente cinematográfico. Combina e reune elementos dispersos que talvez tenha captado com a câmera e impresso na tira de celulóide nos lugares mais diferentes do espaço real e verdadeiro, formando depois, com êles, um espaço cinematográfico. Graças à já mencionada possibilidade de eliminar passagens e momentos de transição, válida para todos os aspectos da realização cinematográfica, também o espaço cinematográfico resulta em ser uma construção feita com elementos reais, selecionados pela câmera.
Para mostrar na tela a queda de um homem, desde o sexto andar de uma casa, podemos efetuar as tomadas da seguinte maneira:
Primeiro filma-se o homem, o qual faz-se cair da janela sôbre uma rêde, mas, naturalmente, evitando que se veja a rêde na tela: depois focaliza-se o homem que cai à terra, a partir de uma pequena altura. Uma vez unidos, ambos os pedaços proporcionarão, quando projetados, a impressão que nos propusemos. Na realidade não se produziu nenhuma queda catastrófica, a não ser na tela, e teve por origem dois pedaços ajuntados de tiras de celulóide. Do desenvolvimento de uma queda real; desde uma enorme altura, foram tomados apenas dois momentos: o princípio e o final da mesma. A parte média da veloz descida foi eliminada. Não poderíamos nos referir a um truque propriamente dito: trata-se de um simples processo cinematográfico para a representação das coisas, semelhante em um todo aquele outro, no qual um intervalo de cinco anos separam, no cenário teatral, o primeiro ato e o segundo.
Voltemos ao exemplo do homem que cai do sexto andar. Aquilo que na realidade era somente uma queda de três metros sobre uma rede e um salto de metro e meio de um banco, surge na tela como uma queda de trinta metros de altura.
León Kulechov filmou em 1920, como experiência, a seguinte cena:
1) um cavaleiro entra no quadro, da direita para a esquerda;
2) uma môça entra da esquerda para a direita;
3) os dois se encontram e estreitam as mãos;
4) vê-se agora um grande edifício branco com ampla escadaria;
5) os dois sobem pela escadaria.
As passagens filmadas separadamente, tinham sido reunidas e projetadas na tela de acordo com a ordem acima indicada. Desse modo o espectador percebia através dos fragmentos combinados a nítida sensação de uma ação ininterrupta: o encontro de duas pessoas jovens, o convite de entrar na casa próxima e a entrada na mesma. Porém as tomadas haviam sido filmadas em diferentes partes da cidade: o jovem no bairro dos Bancos; a mútua saudação, num bairro do oeste, e a Casa Branca fôra extraída de um noticiário norte-americano. Qual o resultado? Os espectadores receberam a cena por um todo completo.
As partes do espaço real, escolhidas para a filmagem, apareciam "concentradas'', diríamos, na tela. O produto era aquilo que Kulechov denominou "superfície terrestre artificial". Mediante o processo de combinar fragmentos, nasceu um espaço cinematográfico novo e que, na verdade, não existia. Edifícios separados por milhares de quilômetros tinham sido colocados juntos num mesmo espaço, que os atores podiam percorrer com muitos poucos passos.

Jornal do Brasil
03/03/1957

 
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