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Hiroshima meu amor

Alain Resnais: uma já excelente carreira com os curta-metragens: Van Gogh, Gauguin, Guernica, Le Chan d'une Styréne, Toute la Mémoire du Monde, Nuit et Brouuillard; maturidade artesanal, precisa noção das virtualidades rítmicas do movimento de camera e do corte.
De
Kane a Hiroshima - de Welles a Resnais, também passando por Ophüls (Lola Montez), a grande linha da invenção, em termos estruturais, no cinema moderno, de acôrdo com uma nova conjuntura de materiais, principalmente o sonoro. Sem esquecer as contribuições mais eventuais (algumas melhor concentradas em soluções de detalhe), contudo importantes, de cineastas como Wise (The Set Up), (veterano, mas ainda sempre um inventor em sequências isoladas, soluções de detalhe), Tati, Kubrick, Aldrich ou Kazan. E ainda alguns veteranos - mestres, nas trincheiras de um classicismo, mantendo viva uma tradição eminentemente visual: Clair Ford, Pabst, Hawks, Walsh (Objective Burma), Vidor ou Dreyer. Reformulaçâo estrutural: Resnais absorve todo um legado de recursos (elementos), já organicamente cristalizados em obras de vulto, antologicas, e devolve-os noutro vibratum de espaço/tempo, devido a um novo agenciar de relações.
Cinema-collage: um crítico francês, Eric Rchmer, do Cahiers da Cinéma, com boa dose de segacidade, designou Hiroshima Mon Amour como o primeiro filme cubista. Iriamos mais longe, num esforço de exatidão: melhor seria denomina-lo, de acordo com o critério de construção de diversas sequencias, de cinema-collage - uma analogia com a técnica da collage (Kurt Schwitters). Segmentos e fragmentos nexo· motovisual/sonoro Dialogo de situações: a atriz francesa e o arquiteto japonês; Nevers X Hiroshima; e a permanencia de um tempo riocorrente - circular, ativando uma constante dialética: sentimento x pensamento; memoria x esquecimento; presente X passado/individuo X coletividade (amor x guerra - a introspecção e a bomba).
Arte = conflito; Resnais leva um principio eisensteiniano às ultimas consequencias, não pela depuração - imediaticidade dos efeitos, através do uso sistematico do corte abrupto ("the machine-gun cut", Moholy-Nagy;), mas pela. Complexidade aparentemente caótica da intervenção de elementos tradicionalmente considerados, até então, entre si, não harmonicos para uma formulação cinematografica eficiente. Não existe um "motivo" predominante no conceituar de um fluxo de ações elaborado via imagem: as formas condicionam um fundo. Resnais, numa entrevista a "téléciné" responde com bastante discernimento: "Constatado que existem em nosso filme multiplas contradições, todas as interpretações citadas são exatas, cada uma em si propria. Desejamos fornecer ao conjunto um carater multifacial, preferindo os movimentos circulares à pesquisa em profundidade de um tema limitado e definido. Não pense que seja sempre necessario "aprofundar" uma situação ou um personagem".
O stream of consciousness no cinema: o emprego do flash-back não somente acronologico, em tempo fictício, como em Citizen Kane, - aqui, a acronologia vai ao plano, que não obedece a uma linha de desenvolvimento natural para os eventos, assim como a narrativa oralizada da protagonista.
A imagem nem sempre rima com o que ela, a atriz, conta. Fluxo-refluxo circular, podendo-se aplicar quase que in totum, a Hiroshima Mon Amour, a mesma constatação de Michel Butor a respeito do Finnegans Wake, de Joyce: um filme que pode ser assistido a partir de qualquer trecho ("um livro que pode ser lido a partir de qualquer página").
Seccionamento, no fundo da primazia do anedotico: não há causa-efeito, o porque; uma serie de reflexos não arbitrariamente condicionados a estimulos logica e convencionalmente estipulados. Dialogos: em boa parte, é suprimida a empostação dramatica e os personagens falam em recitativo. Corresponde a um integrar num tipo de organização analoga à musical, a que obedece a película.
Participação - formular um pathos do nosso tempo, uma tentativa de afirmação vital, não mediante o discurso, mas o proprio ato filmico, quando, nesse terreno, os sentimentos individuais e coletivos se unem e se separam: "eu sou Nevers e tu és Hiroshima".
Hiroshima Mon Amour; realização de Alain Resnais; roteiro e dialogos de Marguerite Duras; fotografia de Sacha Vireny e Takabashi Michio; acompanhamento musical de Giovanni Fusco e Georges Delerue; décor de Esaka, Mayo e Petri; montagem de Henri CoJpi, Jasmine Chasney e Anne Sarraute; interpretação de Emmanuelle Riva e Eiji Okada coprodução franco-japonesa.

Revista Invenção
14/08/1960

 
Uma Odisséia de Kubrick
Revista Leitura 30/11/-1

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O tempo e o espaço do cinema
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Jornal do Brasil 17/03/1957

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Jornal do Brasil 24/03/1957

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Jornal do Brasil 24/03/1957

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