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Bertolucci: o conformista

Antigamente, na época do neo-realismo, os filmes italianos de mundo político eram lineares, em estilo semidocumental, às vêzes bombásticos, no protestar ou no chorar. Ou então, os requintes esteticistas de um Visconti, ou, na reconstrução de cenários, como no recente Metello, de Mauro Bolognini.
O filme político exige, além dos instrumentais específicos da linguagem, o natural conhecimento de causa, a fim de que se projete uma dialética funcional ao meio de expressão. Exemplo de um grande filme político nos últinos anos: A Guerra Acabou (La Guerre est Finie), de Alain Resnais. Em volta dêle, ou muita discurseira ou muita confusão. O Conformista, de Bernardo Bertolucci, baseado em romance de Alberto Moravia, bastante alterado em seu sentido pelo roteiro, reflete o estágio da confusão, apesar da inegável beleza do tratamento visual, de algumas seqüências bem elaboradas, a demonstrar que o diretor tem talento, embora esteja confuso em sua estética e filosofia. O freudismo mesclase à reação ideológica; a alegoria em tom quase alucinatório - surrealista mesmo - tenta explicar o comportamento "alienado" do protagonista, aliás bem interpretado por Jean-Louis Trintignant. Mas se o homossexualismo enrustido fôsse, por si só, explicar a atitude de extrema-direita, seria necessário que os países, vítimas do fascismo, tivessem uma maioria de sodomitas - fato que, depois do mundo grego, tornou-se pouco viável. O máximo que se registrou, até há pouco tempo, por região, foi cêrca de 30 por cento.
Em paralelo, o exame do fenômeno da alienação pode se tornar em boomerang para aquêles que nisso se aventuram sem a necessária cultura e experiência, vítimas de dogmas, que, afinal, tanto existem à direita, como à esquerda.
Para tentar explicar o fascismo de Mussolini, o qual não viveu, pois nasceu em 1941, Bertolucci envida realizar o exame "de dentro", a partir do decadentismo. Talvez êsse mesmo decadentismo fôsse um escudo para permitir o que, afinal de contas, é importante e justifica a arte ou a criação em geral: a pesquisa da forma. Assim, permaneceria a desculpa aos caçadores de bruxas. Então, a coisa se esboroa, porque nem só de alta burguesia e de homossexualismo viveu Mussolini. Se assim fôsse, nem êle, nem Hitler, teriam feito o que fizeram.
Pois o comportamento alienado não é apenas privilégio de uma classe. Uma das peças mais importantas para explicar o problema de facêtas empolgantes, junto à população, de regimes totalitários, reside na questão do mito. Cassirer, no fim da vida, colocou isto muito bem, ao escrever O Mito do Estado. Ali mostrou o horror ao mito político, ou seja, as "verdades coletivas" irracionais que alienam o raciocínio de grande parte das populações. Nessa altura, só se salvam mesmo, em grupo, intelectuais, porque já não é apenas questão de liberdade física, eventual, de comportamento, mas de liberdade interior, essencial (aquela de Heidegger). Cassirer, aliás, encerrava seu livro, dizendo que somente o artista poderia combater o mal do mito, que, segundo Max Müller, seria uma doença da linguagem.
Bertolucci se salva pelo extraordinário verniz que soube conferir à sua fita. Uma fotografia admirável, na concepção cromática, no uso dos esfumaçados, dos tons mortos, dos contrastes, até mesmo de determinadas angulações. Além disso, cenas isoladamente bem concebidas, como da dança, do encontro com o chofer, da visita à mãe devassa e viciada. Mas o conjunto permanece caótico (não o caos ou a destruição que cria ou recria). O projeto geral ficou no papel, porque os seus cálculos de efeitos eram inadequados e perdemos mais uma oportunidade de formulação política via cinema.

Correio da Manhã
12/12/1961

 
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Revista Leitura 30/11/-1

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