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Brooks – Mau Mau

Com a exceção de “A Festa do Casamento”, cujo argumento sintomaticamente não é seu, todas as últimas fitas de Richard Brooks oferecem um escopo temático, subaltamente pretensioso e corajoso.
“Deadline U.S.A.”, com o grande Humphrey Bogart, ainda era pelo menos pouco fértil em nuanças melodramáticas – trata-se de uma realização enxuta, embora suas virtudes não sejam muitas.
“A Última Caçada”, por outro lado, e apesar do teor novelístico, cingia-se a problema de menores proporções. Afinal, matar ou não matar búfalos é uma indagação que oferece alcance bem mais restrito do que matar ou não matar negros (malgrado as vezes seja necessário fazer ver que se trata de gente).
“Sementes de Violência”, como película corajosa e realista assemelha-se-nos a um conto-do-vigário. Embora os alunos se portem como autênticos “gangsters”, numa aberração grandiloqüente e desnecessária, no final sobrevém, a muque, um “happy-ending” que justamente haverá de conferir um caráter meramente episódico ao entrecho focalizado e ainda para esse aspecto serão as exacerbações dos exemplos que exatamente servirão, a fim de melhor caracterizá-lo. Gleen Ford, depois de muito apanhar dos alunos, consegue convencê-los a entrarem no bom caminho – todos os homens são irmãos, América é uma grande democracia, as coisas vão indo bem, etc. E bons momentos de cinema (o que mais interessa, enfim) fornecem o devido realce àquelas passagens dosadas de incrível violência que entretanto não contribuem para criar a desejada sensação de realismo essencial, própria aos filmes de intenções panfletárias. O convencionalismo do esquema e da solução anula o colorido áspero e brutal. Nesse ponto, “O Selvagem”, de Lazlo Benedek. Ainda se constitui na última palavra em produções sobre o assunto. O sombrio clima de violência, em estado latente, que paira sobre toda uma sociedade surge delineado através de um critério de transfiguração muito mais válido e eficaz do que o da fita de Brooks ou das travessuras de James Dean, em “Juventude Transviada”, de Nicholas Ray (ambas, contudo, apresentando instantes cinematográficos de elevada estirpe).
“Sangue sobre a Terra” (Something of Value), mostra-nos o diretor e roteirista novamente claudicante em suas intenções. Para ele, o dilema africano se resolverá na melhor das águas, com mesuras de ambas as partes. Revoluções nada adiantam e a mais salutar das sugestões pacifistas nasce justamente da frase de um homem branco, o pai de Hudson, o grande modo de seu combater uma idéia é lançar uma outra que seja melhor. Basta isso para que o chefão “mau mau” tenha uma crise de consciência (traiu seu deus!) e “dê o serviço”, como se diz na gíria. E, no desfecho, Rock Hudson carrega o filho de Poitier nos ombros para um mundo melhor, onde pelo menos com a sua espingarda ele poderá atirar nas zebras...
O sabor novelístico e melodramático acompanha a película de ponta a ponta. Dana Wynter, volta de Londres e no final, “snob” mesmo sem querer, diz após as coisas terríveis que presenciou “ser a África sua terra!”. A ação exterior do celulóide comporta tramas, escaramuças e soluções dignas do mais movimentado seriado. E Brooks, mais uma vez se utilizando de um colorido vivaz e violento com o fito de impingir uma realidade falsamente equacionada; estruturada mediante o uso desproporcional dos elementos verídicos e inverídicos que para ela convergem.
Cinematograficamente falando, “Someting of Value” é a maior realização sua. A pureza imanente de alguns aspectos visuais, a riqueza do enquadramento, o hábil manipular da câmera nas cenas de ação, os jogos de “close-up” extremamente precioso valorizam bastante um argumento deficiente. Aqui, deve-se ressaltar o esplêndido trabalho de fotografia de Russel Harlam, sempre em forma. Também o acompanhamento musical de Mickol Roza tem momentos altos no sublinhar de certos trechos, embora noutros os motivos sejam demasiadamente repisados.
Entre os intérpretes, avulta Juano Hernandez em soberba atuação, com máscara admirável. Wendy Hiller, a grande heroína do “Pygmalion”, de Asquith & Howard, reforça o elenco. Sidney Poitier parece ter pouca força expressiva, Dana Wynter é a pitada de açúcar na fervura e, a respeito de Rock Hudson, são inúteis os comentários.

Jornal do Brasil
09/02/1958

 
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