Mas um filme documentando trechos de uma fase do apogeu de Holywood. Na maior parte as cenas são musicais: até Stan Laurel e Oliver Hardy cantam. O início já é recompensador: a seqüência de Flying Down To Rio, com as coristas dançando sobre as asas dos aviões, e Fred Astaire, lá em solo firme, dando seu plá. O mesmo Astaire que reaparecerá bailando com Ginger Rogers, em Swingtime. Logo depois, uma pequena seqüência com o mudo e infalível Buster Keaton, tentando tirar o carro enguiçado da linha do trem.
Outro ponto, um hit, a marcar a generosa ingenuidade de uma época, o décor ao fundo da tela, com Donald Douglas e Betty Compson cantando e dançando, como arranha e libélula, com o indefectível acompanhamento de coristas. Em suma, o filme de No Esplendor de Hollywood consiste num duplo presente: o delírio visual e coreográfico de Gold Diggers of 1933, ao som da Shadow Waltz, valendo lembrar o trecho do fundo escuro apenas contrastado pelo reluzir de dezenas de violinos, e o de Footlight Parede, com as evoluções do ballet aquático, agora, ao som do não menos famoso By a Waterfall (Sob Uma Cascata), que teve a sua versão brasileira na voz do Chico Alves, com letra de Lamartine Babo. Pena não vermos e ouvirmos Dick Powel nessas cenas. De qualquer forma, nessas e noutras partes inseridas na fita, está o grande astro da coletânea, o coreógrafo e diretor Busby Berkeley – um dos grandes do cinema em matéria de espetáculo.
Temos cenas inéditas de filmagens em estúdios e momentos de intervalo, Maurice Chevalier fazendo teste para o cinema sonoro cantando Louise, uma passagem hilariante – cortada na época – de W. C. Fields, como dentista. E ainda mais Jeanette MacDonald, como sempre magistral, em Love Me Tonight, Al Jolson, Carmem Miranda, Bing Crosby, Dick Powell e o ultraglamourizado cowboy Roy Rogers, também cantando. E muito mais gente. Quem narra é Mickey Rooney. De novo, o cinema como máquina do tempo, num filme que vale a pena ser assistido, tanto por neófitos como por nostálgicos.
Jornal do Brasil
06/04/1979