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Cinema 57

os 10 melhores

1 - "na estrada da vida” (la strada), de federico fellini
2 - "as férias de m. hulot" (les vacances de m. hulot), de jacques tati
3 - "o grande golpe" (the killing), de stanley kubrick
4 - "o último ato" (der letzte akt), de g. w. pabst
5 - "a morte passou por perto'' (killers's kiss), de stanley kubrick
6 - "rastros de ódio" (the searchers), de john ford
7 - "morte sem glória" (attack), de robert aldrich
8 - "a trágica farsa" (the 'harder they fall), de mark robson
9 - "o caso maurizius" (l'affaire maurizius), de julien duvivier
10 - "o quinteto do morte" (lady killers), de alexander mackendrick

terminado 1957, apresentamos aqui uma relação de obras e autores que mais se destacaram no terreno da arte cinematografica nesse último ano, de acôrdo com o nosso ponto de vista.
para critério de seleção dos filmes, não fugimos, de início, à elaboração do consagrado clichê dos dez melhores, seguidos por dois grupos, a e b. no grupo a, colocamos as realizações que julgamos oferecer determinados aspectos positivos no complexo invencão e/ou mestria. os nomes das películas vão surgindo em ordem qualitativa mais ou menos decrescente, sendo que alguns dos derradeiros celulóides constantes da lista dos dez poderiam também aqui figurar; no grupo b, também em ordem mais ou menos decrescente, permanecem outras produções de nível inferior às do anterior, mas que merecem citação, ou por certas características marcantes do estilo do realizador, ou pela perfeita consumacão de tratamento de um gênero menor (no que tange às possibilidades de desenvolver uma pesquisa estética de maior amplitude), pela utilização com sucesso de alguns recursos inusitados, ou então unidade e/ou equilíbrio; enfim, tudo que permita a um filme que seja considerado bom.
no plano das obras-primas ou antológicas, temos duas fitas: "la strada" e "les vacances de m. hulot", o que não está mau, se levarmos em conta que 1956, segundo nossa opinião, não apresentou nenhuma. ambas as películas foram exibidas durante o primeiro semestre que, sem dúvida, foi muito melhor do que o segundo, êste prejudicado com a questão cofap x exibidores, motivando a retenção de uma série de lançamentos, principalmente os de hollywood. mas o cinema europeu é também constantemente prejudicado, tanto pela má escolha das fitas como pelo critério de lançamento, pouco se viu do cinema italiano, sueco e japonês, checa, assistimos entretanto, em sessão especial, no meio do ano, à comédia sueca "uma lição de amor", mais uma obra-prima de ingmar bergman, e, em fevereiro, num festival fantasma da tabajara-film no cinema eskye, da tijuca, ao excelente filme japonês de keigo kimura, "a bela e os ladrões". ambas as realizações teriam lugar certo entre os dez melhores do ano, porém, inexplicavelmente, até agora não estrearam em programações normais .
no que toca ao brasil, "rio zona norte" é de longe a maior película nossa exibida em 1957; e a única dotada de pretensões sérias, entre as que assistimos. fora disso, apenas "de vento em pôpa" reabilita em parte as comédias musicais da atlântida que atravessavam uma fase ingrata, desde a sua melhor réussite com "carnaval de fogo". é a outra fita nacional que pode ser digna de mencão. o resto são "coisas como" o negócio foi assim", "rio - fantasia" ou "maluco por mulher" (esta, a pior realização estreada no rio de janeiro, pelo menos dentro dos últimos dez anos).

procuramos também organizar relações de diretores, intérpretes, fotógrafos, etc. isto é, todos os artistas que colaboram diretamente na confecção de um filme.

grupo a - rififi, de jules dassin; fôlhas mortas, de robert aldrich; o homem que sabia demais, de alfred hitchcock; sublime tentação, de william wyler; blefando a morte, de harry horner ; a bruxa, de andré michel; sêde de viver, de vincente minelli; europa 51, de roberto rosselini; ódio contra ódio, de joseph h. Iewis; orgia sangrenta, de harry horner; o homem do braço de ouro, de oto preminger; marcado pela sarjeta, de robert wise.

grupo b – o águia solitária, de billy wilder; a rua da esperança, de carol reed; grilhões do passado, de orson welles; quem foi jesse james?, de nicholas ray; cárcere sem grades, de fred zinneman; teu nome é mulher, de vincent minelll; meias de seda, de rouben mamoulian; marcelino, pão e vinho, de ladislao vajda; o planeta proibido, de fred m. wilcox; entre o céu e o inferno, de richard fleisher; suplício de uma alma, de fritz lang; a última carroça, de delmer daves; a loteria do amor, de charles crichton; perseguição sem tréguas, de john gilling; a sombra no telhado, de victor vicas.

observação -
o belo curta-metcagem, “le ballon rouge", de albert lamourisse, deve ser lembrado; seu nível corresponde facilmente ao das películas enquadradas no grupo a.

na estrada da vida - autêntica obra-prima do moderno cinema italiano, "la strada" só pode permitir um paralelo entre as fitas neorealistas com "ladrões de bicicletas". seu diretor, federico fellini, coloca-se de imediato entre os grandes da cinematógrafia peninsular: viscomti, de sica e castellani. excelentes o acompanhamento musical de nino rota e a fotografia de otello martelli, êste, por ora, o melhor camera-man do cinema italiano. giulieta masina, através de sua gelsomina, contribui para a galeria dos tipos inesquecíveis do écran; richard basehart, como il matto, em outro extraordinário desempenho, o melhor de sua carreira, confirma tôdas as qualidades já denotadas mediante as suas fitas americanas anteriores; anthony quinn, zampano, outra memorável interpretação: das mais pungentes da história da sétima arte, a cena final em que chora, sózinho na praia escura.

as férias de m. hulot - se constitui na comédia mais importante aqui estreada nos últimos anos. jacques tati revigora inteiramente o gênero através de um eficiente processo de renovação, tanto no plano visual, como na faixa sonora. um autêntico inventor na arte cinematográfica: o critério de superposição dos gags, a partir da ambiguidade dos efeitos; a original utilização do ruído, com evidente preponderância sôbre os diálogos - êstes jamais assumindo durante as sequencias o primeiro plano no que tange à atenção do espectador no desenrolar da trama. Cenas como a da homérica viagem de hulot em seu curioso veículo, dos quiproquós na praia, do entêrro, são antológicas.

o grande golpe - stanley kubrick, a maior revelação do ano como diretor. "the killing", um filme realizado com extrema precisão, contendo soluções das mais inventivas, denunciando a absorção eficaz de boas influências: bergman, huston. outra película que se enquadra na série das que exploram o tema do grande assalto e a consequente análise dos caracteres envolvidos no entrecho. superior ao "rififi ", de dassin, quase do mesmo nível do clássico de huston: "the asphalt jungle", kubrick também se utiliza com pleno sucesso do método da liberdade temporal e o bem explorado vai e vem que quebra a linearidade do desenvolvimento das ações propicia maior intensidade ao ritmo psicológico, uma maior liberdade no tratamento de fatôres acessórios ou no uso de elementos valiosos que, doutra forma, seriam forçosamente absorvidos pelo crescendo clássico.

o último ato - pabst reafirma as suas qualidades de grande realizador, ao descerrar a imensa contextura patética de um tremendo libelo com raízes históricas. os derradeiros dias de hitler, o sentido caótico de uma época sufocante, de uma nação em pleno desmoronamento – tudo nas dimensões análogas de uma tragédia grega. albin skoda, em extraordinária interpretação, compõe um fabuloso retrato do louco que julgou dominar o mundo e que mesmo nas últimas horas ainda procurava se insuflar de esperanças, renitende na atitude de semi-deus. oscar werner, reaparece também em boa perfomance, malgrado sem idêntica oportunidade a que desfrutou no extraordinário "decisão antes do amanhecer“ de anatole litvak. o ritmo da fita, num crescendo maciço até a violenta eclosão final, com passagens inesquecíveis.

a morte passou por perto - menos madura e menos pretensiosa que “o grande golpe”. “killer’s kiss” apresenta no entanto uma pureza de tratamento visual que brota naturalmente dos minimos detalhes, quase inusitada. Outra vez a eficaz absorção de boas influências: a "avantgard", algo da concepção do neo-realismo, "the set up", na cena em que matam o agente e, novamente, a presença de bergman, agora no que concerne ao jôgo com os detalhes nos interiores com o uso do espelho e ao manêjo do personagem vivido pela hetoína, muito parecida com as do regisseur sueco. sequencias antológicas como a da luta de boxe, ou a da luta selvagem entre os bonecos da fábrica (aqui também a influência do expressionismo alemão) já permitiam que se percebesse em kubrick um futuro brilhante de cineasta consciente e estudioso, de homem de vanguarda; e “the killing” veio a evidenciar isto em grande parte.

rastros de ódio - john ford, no seu velho "habitat", reedita os grandes momentos de sua carreira. "the searchers" é seguramente a melhor fita do cineasta irlandês nesse último decênio, superior mesmo, a nosso ver, a "depois do vendaval". um contraste marcante a demonstrar a atual desigualdade de ford é oferecer o melhor western do ano e depois nos brindar com aquêle obeso abacaxi que foi "asas de águias" com o mesmo john wayne. “rastros de ódio” contém novamente alguns aspectos e coloridos característicos da épica fordiana, tudo bem filtrado através de um excelente "script'' de frank I. nugent e do não menos excelente tratamento visual da fotografia em côres de winston c. hoch, apreciável desde a cena inicial, com a chegada de john wayne vista, em clássico enquadramento, pelo umbral da porta que se abre.

morte sem glória - aldrich, atualmente já considerado (e de modo merecido) como um dos grandes de hollywood, enfrenta com sucesso algumas variantes da temática da guerra a la milestone. com o auxilio da extraordinária fotografia de joseph biroc, constrói trechos decorridos nos exteriores admiráveis, especialmente no que se refere à adequação da tonalidade. o ponto fraco, que impede a "attack" de ser a obra-prima que aldrich vem há muito prometendo, são algumas falhas na fabulação do enrêdo que justamente lhe extraem a amplitude almejada; falhas que o diretor não conseguiu contornar e que se prendem ao desencadear de uma série de ações vinculado às reações do capitão medroso. a música de frank de vol é outro ponto alto da realização.
a trágica farsa - mark robson que há longo tempo não dizia ao que veio, torna a entrar em foco mediante, esta produção de alto nível, mais uma película que se fllia ao gênero dito ''corajoso" de hollywood. um admirável quadro da farsa, exploração, baixeza, presentes no mundo corrompido do boxe. se o desenrolar dos fatos fôsse menos discursivo, se fôssem elididos alguns pequenos achados-chavões adstritos ao teor moralizante, no mau sentido, teríamos, sem dúvida, uma obra antológica. o caráter histórico do filme se impõe, em virtude de ser o último de humphrey bogart, o grande ator recentemente falecido; em outra boa performance, aliás. impressionante também a figura de mike lane, como o toro moreno. e a admirável fotografia de burnet guffy, sensivelmente prejudicada pelo superscope 235.

o caso maurizius - um bom roteiro, aproveitando tôdas as situações essenciais do famoso romance de jakob wasserman, confere a julien duvivier uma excelente oportunidade de se servir com êxito de sua veia dramática. na realidade, é esta qualidade que fornece os tons mais fortes ao impacto da fita: um libelo de alta voltagem contra uma ordem social plena de anomalias e que faculta um processo de inversão dos valores em nome das periféricas tramas de orgulho e da vaidade individual. ritmo preciso, mestria no achievement de diversas passagens e rendimento máximo dos intérpretes centrais: daniel gélin, eleonora rossi-drago, madeleine robinson, anton wallbrook (êste sobressaindo em outra marcante atuacão) e charles vanel. e duvivier, militando há mais de trinta anos no cinema, continua em plena forma ao conduzir o celulóide com bastante equilíbrio até o desfecho.

o quinteto da morte - a ealing tradition, novamente no primeiro plano mediante essa admirável comédia, dirigida por alexander mackendrick, no momento o mais empenhado dos cineastas dos estúdios de sir michael balcon. mackendrick, que já fôra o responsável pelo excelente "o homem do terno branco", constrói um filme de elevada classe no gênero, digno de figurar na primeira linha das comédias da ealing: "o homem do terno branco", "as oito vítimas", "o mistério da tôrre" etc. alec guinness, compõe mais um curioso e inesquecível personagem, através de uma perfeita interpretação, porém quem rouba a situação é a velhinha katie johnson, numa das maiores atuações do ano. boa a fotografia e bons os coadjuvantes, principalmente cecil parker.

Jornal do Brasil
05/01/1958

 
Uma Odisséia de Kubrick
Revista Leitura 30/11/-1

As férias de M. Hulot
Jornal do Brasil 17/02/1957

Irgmar Bergman II
Jornal do Brasil 24/02/1957

Ingmar Bergman
Jornal do Brasil 03/03/1957

O tempo e o espaço do cinema
Jornal do Brasil 03/03/1957

Ingmar Bergman - IV
Jornal do Brasil 17/03/1957

Robson-Hitchcock
Jornal do Brasil 24/03/1957

Ingmar Bergman - V
Jornal do Brasil 24/03/1957

Ingmar Bergman - VI (conclusão)
Jornal do Brasil 31/03/1957

Cinema japonês - Os sete samurais
Jornal do Brasil 07/04/1957

Julien Duvivier
Jornal do Brasil 21/04/1957

Rua da esperança
Jornal do Brasil 05/05/1957

A trajetória de Aldrich
Jornal do Brasil 12/05/1957

Um ianque na Escócia / Rasputin / Trapézio / Alessandro Blasetti
Jornal do Brasil 16/06/1957

Ingmar Berman na comédia
Jornal do Brasil 30/06/1957

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