jlg
cinema

  rj  
Cacoyannis cinema grego

No ano que acaba de terminar, surgiu para nós o que praticamente poderia denominar-se o desperta do cinema grego, através da apresentação de duas fitas do diretor Michael Cacoyannis: "Stella" e "A Mulher de Negro”.
Aclamado e ao mesmo tempo, discutido hoje em dia, pela crítica estrangeira, o novel realizador chama a atenção não somente em razão das qualidades artísticas que suas fitas denotam mas também em virtude da particularidade especial de trazer uma diversa concepção de vida e focalizar alguns aspectos dos costumes de uw povo, o qual, especialmente nós num continente distante, não estávamos habituados a encarar através de uma obra cinematográfica. No caso em questão, não é preciso que o filme seja necessariamente um documentário a fim de que possamos assimilar algo das características de outros povos. Pelo contrário muitas vêzes a personalidade forte de um artista autêntico porpicia, mediante uma obra de ficção o depoimento fiel e profundo de uma situação, dá-nos o comportamento essencial de um indivíduo em determinadas contingências formuladas por um meio de vida, adotando em múltiplas ocasiões um recurso antidescritivo nos processo de fabulação. Em caso oposto existe o exemplo frequente de que a mera visualização in loco mesmo cercada de todo o áparato técnico, permitindo minuciosa observação de detalhes, não vai ao âmago de uma situação em causa, não penetra além de uma dada superfície, onde um complexo de eventos e atividades, que se descortina, permanece insuficiente para a dedução do caráter essencial de uma atitude ficando a apreciação do comportamento cingida a uma simples esfera do acidental.
Nas duas películas de Cacoyannis, os personagens estão sempre exteriorizando de modo abrupto, as suas paixões uma violência que mais se afina com determinadas feições da cinematografia de alguns países latinos, do que com as constantes de um sadismo intelectualizado próprias a Hollywood, ou então a morbidez algo contida e a exasperação do sexo no cinema sueco. Contudo uma tal afinidade apenas queda adstrita ao aspecto de imediaticidade das reações. Não existe no choque entre homem e mulher um acondicionamento ao contexto melodramático menos ainda o realismo à la noir típico do cinema francês menos tampouco uma assimilação direta de um problema de ordem social, pelo que, até agora foi -nos dado a perceber. Por outro lado não deixa de ser evidente que o sentido fatalista do entreclo de Stella não se furta a pequenas golfadas de metodramo, o que também ocorre em certos instantes de “A Mulher de Negro” porém tal apenas marca um conjunto de ações físicas jamais identifica o todo.
Este sentido do trágico, tradição eminentemente grega, não atua nas duas realizações com um teor de referências místicas no que tange aos personagens e histórias. Os recursos de parábola estão elididos. Ambos os filmes todavia, embora oferecendo características comuns, um ao outro diferem essencialmente na concepção do ritmo. Em “A Mulher de Negro”, o novo cineasta utiliza um compassar de sequências propocitadamente lento e leva a cabo um exercício de estilo mais uniforme, no que se relaciona aos elementos empregados. Esta maior uniformidade, a aparente maior unidade, entretanto, não conseguem tornar a película um espetáculo da mesma envergadura que “Stella” onde o diretor, malgrado a desigualdade flagrante entre certas passagens devido principalmente às súbitas variações de ritmo, construiu duas cenas antológicas e um desfecho magnífico. A lentidão propositada, quase que inteiramente descrita por um singelo acompanhamento musical, conduz, no caso de "A Mulher de Negro” e com facilidade, longos trechos à monotonia. Um processo dessa natureza exige de maneira geral, uma grande experiência e um grande domínio no contrôle de tempo por parte do realizador, o que Cacoyannis provàvelmente ainda mas retemperndo, não possui pelo visto. Aliás são poucas as fitas que obtém sucesso integral no plano artístico dentro de um tal esquema. "Umberto D" da dupla De Sira-Zavattin figura como uma das raras exceções que se cristalizaram ultimamente numa obra-prima.
Além do caráter monótono que prejudica o ritmo, existe uma solução final de happy-ending algo forçada, deslustrando um clima de pura tragédia construída quase palmo a palmo. Resta daí, somente a intensificacão do ritmo visual, onde a ambiência a atmosfera da trama desenrolada na ilha é permanentemente valorizada através de significativos efeitos plásticos especialmente na clássica recorrência ao contraste, aqui outrossim de feição nitidamene simbólica, entre o traje negro da protagonista e a contínua claridade do décor natural, quer sejam muros ou paredes ou mesmo o traje dos contracenantes. A mencionada protagonista, Ellie Lamberti, compõe um bom tipo, delineado em numerosos close-ups pelo régisseur.
Em ''Stella” contudo, é que tomaram corpo as esperanças nas futuras realizações de Cacoyannis. Filme contendo um entrecho de violentas paixões fornece soluções altamente inventivas na elaboração de algumas sequências. Notadamente e das danças em paralelo, quando o noivo abandonado rodopia pelo salão enfeitado com o mulher que lhe desejava e Stella salta frenéticamente com o jovem ao som da música de um café. As duas cenas entrecruzadas marcham num crescendo paralelo tanto na parte sonora, como na visual onde gradativamente se aproximam até o grande primeiro plano e close-up.
Também o jogo de cortes e fusões, no trecho do atropelamento do rapaz desiludido revela uma extraordinário acuidade do diretor na captação do sentido funcional dêsses elementos.
Bastam as duas passagens acima comentadas para tornar lícitos os encómios à intuição cinematrográfica de Cacoyannis malgrado a queda brusca de nível existente no ritmo da película sob um ângulo de visão para a absorção de um todo.
"Stella” também revela na protagonista, Melina Mercouri, um dos grandes tipos sensuais a reforçar o naipe feminino do cinema moderno, e sua interpretação pode ser colocada entre as melhores no ano que passou. Sua presença e seus gestos, sobremaneira marcantes, nas coloridas cenas de impulso passional, criaram quase que um personagem inesquecível no gênero. E o seu sucesso já lhe valeu a incursão a filmagens noutros países, devendo-se lembrar ter sido um doa valores positivos da derradeira fita de Jules Dassm aqui estreada também no ano passado ''Aquêle que Deve Morrer" (Celui qui Doit Mourir) e que brevemente aparecerá como ponto máximo de uma produção inglesa filmada em tecnicolor, " Por Amor Também se Mata" (The Gipsy an the Gentteman), dirigida por Joseph Losey.

Correio da Manhã
24/01/1959

 
Uma Odisséia de Kubrick
Revista Leitura 30/11/-1

As férias de M. Hulot
Jornal do Brasil 17/02/1957

Irgmar Bergman II
Jornal do Brasil 24/02/1957

Ingmar Bergman
Jornal do Brasil 03/03/1957

O tempo e o espaço do cinema
Jornal do Brasil 03/03/1957

Ingmar Bergman - IV
Jornal do Brasil 17/03/1957

Robson-Hitchcock
Jornal do Brasil 24/03/1957

Ingmar Bergman - V
Jornal do Brasil 24/03/1957

Ingmar Bergman - VI (conclusão)
Jornal do Brasil 31/03/1957

Cinema japonês - Os sete samurais
Jornal do Brasil 07/04/1957

Julien Duvivier
Jornal do Brasil 21/04/1957

Rua da esperança
Jornal do Brasil 05/05/1957

A trajetória de Aldrich
Jornal do Brasil 12/05/1957

Um ianque na Escócia / Rasputin / Trapézio / Alessandro Blasetti
Jornal do Brasil 16/06/1957

Ingmar Berman na comédia
Jornal do Brasil 30/06/1957

562 registros
 
|< <<   1  2  3   >> >|