"Antonioni ocupa o lugar abandonado por De Sica - é, no momento, o maior cineasta italiano.
Em têrmos de invenção, enriquecendo um processo, L'Avventura é um dos mais importantes filmes do cinema moderno – e também uma das maiores obras em qualquer época da sétima arte. Os problemas de tempo cinematográfico ganham enorme contribuição com o ritmo das imagens nessa fita - um ritmo que estabelece positivamente um sentido de duração, em lugar do mero decurso das sequências, arbitrado em padrões miméticos da ficção. Aliás, L'Avventura é um filme anti-sequência, fora dos esquemas clássicos. E segue um critério anti-simbológico de tratar com as imagens, reduzindo-as à sua própria evidência visual - tratamento a sêco, em vez das habituais cargas alusivas.
Também La Notte se impõe como obra exponencial. No entanto, é mais do mestre, do extraordinário pensador e artesão, do que do puro inventor. Sob tal ponto de vista, não deixa de significar um retôrno – uma demissão do processo assumido com a obra imediatamente anterior. Volta a alegoria simbolista - às vêzes com um autêntico acúmulo de metáforas visuais - mesmo assim, muito bem elaborado. Na infra-estrutura alegórica, estão constantemente os muros, paredes e painéis, que emolduram a ação e os personagens, já numa redução do mundo ao típico inferno existencial sartriano - e a alienação que reduz o escritor ao êxito das promoções e autógrafos. Que fará o artesão, em face da cibernética? E Jeanne Moreau em outra marcante interpretação".
Correio da Manhã
24/06/1962