Brasil: beatniks. Natural: ser beatnik já é uma contingência universal da juventude. Oh, to be a beatnik now that... Marginalismo consciente, consentido, convicto. E, não, por causa do ódio: "make Jove not war", é o seu lema.
Um agrupamento dêles mora num casarão da Lapa. Seu ganha-pão é a execução de trabalhos artesanais para serem vendidos pelas ruas. As vêzes, vem a polícia e se repetem situações chaplinescas (Carlitos, o perseguido, pode ser considerado um beatnik primitivo), como outra madrugada, em Copacabana, onde dois dêles foram presos, quando tentavam vender quadros e esculturas. Arte longa, vida breve. Mas a polícia, geralmente, não perfaz distinções sutis quando se trata de "enquadrar" a vadiagem. Muito menos perceber que a vadiagem pode ser uma atitude válida. No caso, um protesto silencioso, solitário, contra a civilização, ou seja: a guerra, a dinheirocracia, o desequilíbrio social.
Agora, o projeto de arte dos beatniks da Lapa é a elaboração de uma peça teatral, com poemas e canções de Brecht, Bob Dylan e também dêles mesmos. Palco, cenário, recinto da platéia e bastidores será o próprio casarão.
O resto, para êles, é esperar por um tempo onde o lazer diário substitua as rodas dentadas da rotina. Onde ser livre não configure a opção entre competir ou escorrer à margem do viver. Sucesso nesse tempo? "Olhos sujos no relógio da tôrre"; já respondia o poema de Drummond.
Correio da Manhã
10/05/1967