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Coimbra: canção e tradição

Coimbra é tradição. A sua longa presença na História, a Universidade, fundada por D. Diniz, o contraste permanente das capas pretas dos estudantes com o branco dominante do complexo arquitetônico, o Penedo da Saudade, pequeno mirante ajardinado, onde poemas, alguns seculares, estão inscritos na pedra, enfim o Mondego, hoje com o seu curso bastante interceptado por bancos de areia, mas que é o rio, cujo fluir traduz o espírito antigo da cidade. O Mondego, tão cantado por Camões, seja num sonêto famoso, como o

Doces e claras águas do Mondego
Doce repouso de minha lembrança
Onde a comprida e pérfida esperança
Longo tempo após si me trouxe cego

seja na Canção IV: "Vão as serenas águas/ Do Mondego descendo/ Mansamente, que até o mar não param:/ Por onde minhas mágoas/ Pouco e pouco crescendo/ Para nunca se acabar se começaram". Ou então, um contemporâneo, como Diogo Bernardes, como sonetista, da mesma estatura que Camões, tão inspirado também pelo mesmo rio:

Já do Mondego as águas aparecem
Aos meus olhos, não meus, antes alheios,
Que doutras diferentes vindo cheios
Na sua branda vista inda mais crescem.

Noutro sonêto, Bernardes fala do Mondego a Antonio Ferreira: "Ferreira, eu via as claras e formosas/ Aguas do teu Mondego irem chorando/ As lembranças do tempo, que cantando/ Andava nas suas praias saudosas".
Coimbra tem sua origem no
oppidum romano do local, denominado A Eminium. Até o ano de 585, estêve sob o domínio dos suevos; a partir daí, veio o govêrno dos godos. A seguir vem o domínio dos sarracenos; depois, a invasão dos mouros, até que, em 1064, é conquistada por Fernando Magno. Foi estabelecida como capital por D. Afonso Henriques, primeiro rei português. As côrtes, posteriormente, várias vêzes se reuniram em Coimbra ou a ela foram convocadas. Coimbra foi berço de diversos reis e de um grande poeta, como Sá de Miranda.
A Universidade, fundada por D. Diniz, foi sancionada pela bula do Papa Nicolau IV, em 13 de agôsto de 1290. Após algumas mudanças para Lisboa, foi fixada definitivamente em Coimbra por D. João III. Está, hoje, dividida na parte antiga e na parte nova. Na parte antiga, cuja entrada é feita pela Porta Férrea, que provém da primeira metade do século XVII, lá estão as estátuas dos reis mais importantes para a Universidade: D. Diniz e D. João III. E um mundo plástico de exteriores ou interiores do passado concreto a ser vistô, seja a Sala dos Capelas, a Tôrre, a Via Latina ou a biblioteca, decorada a ouro no reinado de D. João V.
Coimbra, de lição permanente, é também uma canção, como aquela melodia internacional assim exalta - melodia que, no entanto, nada tem de castiça, nada a ver com o fado. A Coimbra canção, das serenatas, com o seu fado bem diverso do fado urbano de Lisboa (que fêz a glória de Amália ou de Alfredo Marceneiro), tendo na música características mais monocórdias, medievais, com letras menos ricas, porém mais concisas, tais como são cantadas por um América Lima, um Germano Rocha: o Fado Hilário, o Fado Mondego, o Fado Estudante, o Lago do Breu, a Balada do Entardecer, Ao Cair da Tarde, Os Vampiros.
Se Coimbra é um dos principais focos históricos e culturais de Portugal, ainda na sua pequena cidade de crianças, Portugal dos Pequeninos, resume todos os monumentos e prédios tradicionais daquele país. Coimbra: canção e tradição.

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