Em Portugal, renascem resíduos da civilização romana, emergindo do solo: Conímbriga. A 17 quilômetros, a sul-sudoeste de Coimbra, lá está a estação arqueológica, descerrando, abaixo da terra, o que foi trecho do Conventus Scallabitanus e sua população – uma das subdivisões da província da Lusitânia. Há, inclusive, indícios locais de uma vivência pré-romana, talvez da Idade do Ferro.
É a instigação ao esfôrço de reconstituir in loco, na mudez das esfíges, esculturas, mosaicos e colunas decepadas, todo um período de vida urbana. E o Museu Monográfico de Conímbriga atesta o resultado dos trabalhos, cuja sistematização sob impulso governamental, iniciou-se ainda recentemente. Lá, no Museu, já estão à mostra, em contato com o público, moedas, fragmentos de objetos ou de obras de arte (algumas restauradas) - pistas que conduzem a um mundo de idade quase bimilenar. Cabe notar que, incrustadas, inseridas à la diable nas pedras das muralhas que demarcavam a região, foram encontradas inúmeras obras de arte, a demonstrar a urgência, o desespêro em construir as mesmas muralhas, a fim de defender o povoado contra a invasão dos bárbaros. Dai, a fulga, semidestruição e, paulatinamente, a erosão e o soterrar do tempo.
Presume-se que a primitiva povoação lusitana de Conímbriga fôsse pobre, sem maiores lances de história a contra ou de arte para legar. A chegada dos romanos à região, segundo presunções em vigor; deu-se na segunda metade do século II Antes de Cristo, na época das campanhas de pacificação empreendidas por Décimo Junio Bruto. E, mais tarde então, verificou-se o desenvolvimento de Conímbriga em suas características hispano-romanas.
As fontes de referência de natureza literária são escassas. Existe um registro na Naturalis História, de Caius Plinius Secundus, e no Itinerarium, de Antonino, Conímbriga é derita como estação viária na estrada que ligava as cidades que são hoje Lisboa e Braga. Depois, começaram as invasões dos bárbaros no século V, de acordo com a narrativa de Bispo Idácio, os suévos entraram na cidade no ano 464. E, logo depois, em 468, houve à grande destruição e a dispersão dos habitantes. Séculos e séculos decorridos; o que ainda ficava à vista da antiga civilização e o que emergia da terra, durante os trabalhei de agricultura, atráia o interêsse de estudiosos. Contudo, só ao fim do século XIX, mediante subsídio da Rainha Dona Amélia, o Instituto de Coimbra efetuou as primeiras pesquisas.
Hoje, já se possui noção de algumas concepções arquitetônicas. Muros, aqueduto, piscinas, pisos, mosaicos, refletem aqueles outrora tardiamente exumado. E ainda há muito que procurar, que escavar para vislumbrar coisas concretas que ajudam a enriquecer as perspectivas do passado, reabastecendo a própria História: Roma em Portugal - Conímbriga
Correio da Manhã
19/10/1966