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Hora e vez da Fifa

Terminada mais uma Copa do Mundo, é a hora e vez de a FIFA procurar o bom senso e o "óbvio ululante" com relação a dois fatores que desvirtuam a competição. O primeiro deles é a eliminatória de um time por força de apenas uma derrota nas oitavas-de-final. O sistema torna-se muitas vezes injusto. Basta recordar o que aconteceu com o próprio Brasil, em 1982, e agora, em 1990.
Em 1982, com aquele belo time, passamos invictos pelo nosso grupo de classificação, derrotando União Soviética, Escócia e Nova Zelândia. A seguir, passamos pela Argentina mas fomos cair diante da Itália, de Paolo Rossi, na segunda fase. Em paralelo, essa mesma Itália somente saíra de seu grupo com apenas três empates, tendo superado Camarões, mediante o saldo de gols.
Neste ano, identicamente, ultrapassamos invictos e com três vitórias
o grupo de classificação e perdemos para a Argentina que só tinha a
metade dos pontos ganhos. E – frise-se - num jogo em que o derrotado dominou inteiramente as ações e viu-se abatido por um caso de acaso. E neste mesmo 1990, ocorre a injustiça com a Itália: invicta, com cinco vitórias e nenhum gol contra, cai, na disputa dos pênaltis, frente à fatal Argentina, que perdera para Camarões, empatara com a Romênia e liquidara a Iugoslávia através apenas da decisão por pênaltis.
Os exemplos acima citados são tão-somente alguns dos mais berrantes. Mas, basta que o sr. Havelange pare e pense. Os esquemas das futuras competições devem, em nome do mais lavado bom senso, tentar impedir ao máximo a incidência da sorte em detrimento da técnica. O sr. Havelange, por seu turno, acaba de dizer que deseja trinta e dois países disputando a próxima Copa, a ser realizada nos Estados Unidos. Trinta e dois, com oito chaves de quatro, saindo então para as oitavas-de-final os dois primeiros colocados de cada chave. Restariam dezesseis seleções e aí, pelo visto, recairíamos no tudo como dantes.
Ora, o sistema mais simples e sem maiores prejuízos de tempo seria aquele de se adotar dupla derrota, no tocante à eliminação da Copa, ou seja, os times derrotados nas oitavas disputariam entre si uma chave ao reverso, como ocorre nas chaves de alguns torneios de tennis. O vencedor da chave, após haver derrotado progressivamente seus adversários, enfrentaria, na finalíssima do campeonato, o ganhador da escala de vencedores, sendo que, este último, com a vantagem de uma vitória, somente seria destronado caso sofresse duas derrotas. Tudo isso muito mais lógico e amparado em maior razão e emoção em torno da Copa.
O segundo fator é aquele do tempo real de jogo. É inacreditável que ainda hoje - na era do computador, que tudo diz e explica em termos numéricos a respeito da competição - esteja nas mãos, na boca e na cabeça de um tenso e solitário indivíduo – o pobre juiz - a decisão de prosseguir ou encerrar uma partida, em dado momento. Os próprios relógios eletrônicos evidenciam quanto tempo de jogo de fato é aproveitado, face aos formais 45 minutos: quase nunca se chega aos 30 minutos. O resto é desperdiçado com advertências, substituições de atletas, atendimentos médicos ou a inefável cera, que tanto prejudica a competição e enerva o torcedor.
Por que novamente não se apelar para o bom senso? O jogo poderia ter um tempo real de 30 minutos determinados infalivelmente pelo neutro, santamente neutro computador, com seu mostrador à vista do público e - quem sabe? - uma também santa e neutra sirene a anunciar o término do espetáculo. Tal como no basquete. Isenção total e sossego para o árbitro.
A FIFA não pode ignorar a realidade eletrônica e tecnológica e – sem a lógica dos tempos atuais – comandar o show como se ainda estivéssemos na época mecanicista.

Tribuna da Imprensa
09/07/1990

 
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