São do maior interesse para o problema dos discos voadores, não apenas os novos fenômenos recentemente verificados na Usina do Funil ou nos arredores de Belo Horizonte, mas também as declarações prestadas ao CORREIO DA MANHÃ por estudiosos no assunto, como o escritor Paulo Coelho Netto (em nossa edição de 11 do corrente(, que já escreveu quatro livros sobre a matéria, o psicólogo Hulvio Aleixo Brant, presidente da CICOANI (Centro de Investigação Civil de Objetos Aéreos Não Identificados) e o professor Flávio Pereira, presidente do IBACE (Instituto Brasileiro de Astronáutica e Ciências Espaciais), estes dois últimos em nossa edição de 13 do corrente.
De início, nem cabe debater se os discos existem ou não, ou se são objetos extraterrenos. Valeria indagar porque se controla a divulgação do fenômeno ao público, com uma persistência sistemática, uniforme, como que através de uma entente universal. Parece que se delineia o receio pelo choque cultural, a gerar uma questão de segurança. O que é o choque cultural? Em termos teóricos, pode ser entendido como a ultra-informação ou informação em bruto - quer dizer, o dado original sem qualquer suporte de redundância. Pois é esta que permite consumar o elo entre o novo e a realidade comum do receptor. Cortando o elo, verifica-se o choque. Mas quanto maior o mistério intencional, não se estará preparando um possível choque inevitável, capaz de ser atenuado? Daí, esta espécie de atuação inquisitorial do racionalismo formal, que visa a colocar na área da loucura e adjacências aqueles que, porventura, tenham a experiência com o fenômeno.
Pois a presença dos discos voadores, ao contrário de Zé Arigó, espiritismo, macumba, videntes, cartomantes, telepatia, evidencia a implicação de um fenômeno, não de natureza paranormal, porém normal (real). Tão real quanto a existência da Bomba H e outros armamentos atômicos, que menos não assustam a humanidade e, nem por isso, estão mais ocultos...
Melhor ainda. O acontecimento verificado na Usina do Funil, quando só depois que o vigia atirou, teria o disco emitido um clarão paralisante, demonstra existir a possibilidade de diálogo. Se não estariam capazes de atingir nossa linguagem de signos, simbólica. conotativa, perceberiam, no entanto, o alcance de nossos sinais (linguagem denotativa). E, isto, também é mediação para amenizar o choque cultural.
Por que é obrigatório não acreditar que um disco foi, da Terra à Lua, em 10 segundos? A recíproca também exigiria a indagação dialética. Há o primado da matéria? Ou o da energia? Quem resulta de quem? Apenas sabemos dos limites entre o conhecimento humano e o desconhecido, (e este não tem limites). Quando Caramuru deu um prosaico tiro, os indígenas caíram em transe místico. Mas o nosso conhecimento de civilizados já variou quanto as reações: ninguém necessariamente, cairá de joelhos ao ver um disco.
Correio da Manhã
15/09/1979