Em Roma (não, não é só na Sicilia)...
Em Roma (não, não é só na Sicilia) ainda há quem seja contra o nudismo. E, Segundo telegramas que chegam, as principais vítimas dos anticorpos continuam sendo os jornaleiros, a fazer ainda corroborar o refrão de que a corda sempre rebenta do lado mais fraco. Centenas deles já foram levados à boca dos tribunais ou intimados a comparecer a juízo, acusados de venda de publicações consideradas obscenas. E quem discerne a obscenidade? Ora, ora, a polícia.
Mas, se na Itália, ainda existem os puritanos punitivos, também existe, para inveja de muitas “democracias’ ocidentais, o direito de greve. Resultado: as vítimas, ou seja, os jornaleiros marcaram greve para hoje, com duração de quarto horas, que atingirá as 20 mil bancas do país.
Objetivo: obrigar o Parlamento a baixar uma lei que proteja a classe das incursões saneadoras da moral particular de alguns inimigos do corpo. Pois, afinal, eles (os jornaleiros) nem sequer posam despidos nas banas. Argumentam: qualquer italiano adulto pode ir ao cinema e ver corpos despidos e em movimento – por que, então, não podem ter a liberdade de vender as revistas com nus sem a ameaça de parar no cárcere? Dentro da irresistível avalancha neopagã, os jornaleiros praticam o jogo da verdade e poem o dedo na ferida das contradições.
Tudo isso começou por volta de 1966, quando as revistas que misturam reportagens, cultura e erotismo invadiram as bancas, Principiou a luta entre os eróticos e os heróticos da polícia. Os tribunais, porém, passaram a absorver os editores, mas mesmo assim, quando os nus são tidos como excessivamente provocantes.
Um dos comandantes da guerra contra o nudismo impresso, Mário Sassi, juiz de Gênova, conseguiu condenar quarto jornaleiros. Daí, o agravamento da crise, enquanto, o dr. Carrara, membro do Parlamento, lembrava que caso o juiz Sassi fosse ao Vaticano e visse a Capela Sistina, provavelmente acusaria o Papa de exibir os nus de Michelangelo. E é de se arrematar: os nus de Michelangelo são bem fartos e grandiloquentes, bem diversos de muitos daqueles mais longilíneos e quase assexuados da época atual, vestidos por Cardin.
Correio da Manhã
17/02/1970