jlg
diversos

  rj  
Linguagem e Mito

Um dos melhores lançamentos desse ano é sem dúvida a tradução para o português de Linguagem e Mito (Sprache und Mythos), de Ernst Cassirer, publicado no correr da década de 1920, quando o autor, em paralelo, escrevia o primeiro volume de sua Filosofia das Formas Simbólicas (Die Philosophie der Symbolyschen Formen) - a sua obra mais importante.
Ernst Cassirer, nascido em 1874, em Breslau, na Silésia, depois de uma intensa formação em várias universidades alemãs (Leipzig, Berlim, Heidelberg, Marburg), tornou-se um dos principais esteios do neokantismo. Em 1919, foi professor de Filosofia da Universidade de Hamburgo, da qual passou a reitor em 1930. Logo depois, no entanto, abandonou esse cargo quando Hitler assumiu o poder. Foi lecionar em Oxford, Gotemburgo e, finalmente, na Universidade de Yale, nos Estados Unidos, país onde permaneceu, de 1941 até a sua morte, em abril de 1945, em Nova York. Morreu exalamente quando terminava de rever os manuscritos de seu ultimo livro, O Mito do Estado, um dos melhores trabalhos existentes a respeito do "horror" mitológico na política (principalmente com a motivação da presença de Hitler). Foi, então, Charles W. Hendel quem organizou a terceira parte do livro.
O primeiro livro de Cassirer foi abordando o pensamento de Leibniz: Leibniz System in Seinen Wissenschaftlichen Grundlagen, publicado em 1902. A seguir, vieram inúmeras obras, tratando, em especial, dos problemas do conhecimento à luz da História da Filosofia, sem falar na grande iluminação do autor que constituiu realmente o descerrar dos mecanismos geradores das manifestações míticas e de linguagem, aliás, segundo ele, indissoluvelmente ligadas.
Nos Estados Unidos, outros grandes nomes se encarregaram de traduzir as suas obras: a transposição para o ingles de Linguagem e Mito coube, nada mais, nada menos, a Susanne K. Langer (cuja obra também vem sendo, aos poucos, traduzida aqui no Brasil). Aliás, em seu prefácio à referida tradução inglesa, Susanne Langer assim termina o preito a EC:

Ofereço a tradução desse pequeno estudo (com algumas ligeiras modificações e cortes feitos pelo autor. pouco antes de sua morte), tanto como exposição de uma nova visão filosófica ou revelação do trabalho do filósofo: seu material, sua técnica e a solução do problema, através de um lampejo final de gênio interpretativo.

Linguagem e Mito - mais um volume da coleção Debates, da Editora Perspectiva - constitui-se na análise de processos de pensamento não-racionais, que formam a cultura. Cassirer mostra que, em paralelo à linguagem e mito, está uma "gramática" inconsciente da experiência e cujos cânones jamais serão aqueles do pensamento lógico. Por isso, nomear não é só dar nome; a palavra, "como um deus ou um demônio", está, diante do homem, existindo e significando por si própria, como uma realidade subjetiva. Por isso também, as formas simbólicas especiais não são imitações, porém "órgãos" da realidade, já que é somente pelo seu agenciamento que algo de real se toma um objeto passível de apreensão
intelectual e, como tal, fica perceptível a nós.
Talvez ainda o capítulo mais lapidar desse livro, seja o último, intitulado "O Poder da Metáfora", em que no desfecho o autor ilumina, no esforço de explicação do processo poético:

O que a poesia expressa não é nem a mítica palavra-imagem de deuses e demônios, nem a verdade lógica de causalidades e relações abstraias. O mundo da poesia permanece distante de ambos, como um universo de ilusão e fantasia - mas é exatamente esse processo de ilusão que o estado do sentimento puro pode encontrar o meio de se exprimir e pode, em decorrência, atingir a sua atualização plena e concreta. A palavra e a imagem mítica, que, outrora, surgiram à mente humana, como poderes sólidos e realísticos, descartaram-se, agora, de toda realidade e efetividade; tornaram-se uma luz, volatilidade luminosa, na qual o espírito pode-se mover, sem obstáculo ou restrição. Essa liberação é obtida não porque a mente abandone as formas sensuais da palavra e da imagem, mas pelo fato de usá-las como órgãos autônomos e, assim, divisa-as como o que realmente são: formas de sua própria auto-revelação.

Correio da Manhã
02/04/1972

 
Wiener ou Cibernética
Correio da Manhã 12/04/1964

OP X POP uma opção duvidosa
Correio da Manhã 02/10/1965

Mitos políticos
Correio da Manhã 31/10/1965

Cristãos & Ocidentais
Correio da Manhã 22/12/1965

Moral & Salvação
Correio da Manhã 13/01/1966

Semântica & Nacionalismo
Correio da Manhã 25/02/1966

Ruínas de Conímbriga
Correio da Manhã 19/10/1966

Coimbra: canção e tradição
Correio da Manhã 09/11/1966

Beatnicks: protesto solitário
Correio da Manhã 10/05/1967

Os filhos que devem nascer
Guanabara em Revista nrº7 01/07/1967

Despir os Tabus
Correio da Manhã 12/01/1968

Ninguém ri por último nas fábulas do povo
Revista do Diner\'s 01/04/1968

Muro e Turismo
Correio da Manhã 02/08/1969

Dogma & dialética
Correio da Manhã 10/09/1969

Forma e fonte
Correio da Manhã 16/09/1969

72 registros
 
|< <<   1  2  3   >> >|