Antropologia filosófica
autor: Ernest Cassirer
Um dos grandes livros de nossa época, que a Editora Mestre Jou lançou, na tradução de Vicente Félix de Queirós. Antropologia Filosófica (An Essay on Man) trata-se, ao mesmo tempo, de resumo e desenvolvimento das linhas gerais de idéias que Ernst Cassirer havia estabelecido em 1923, com a
sua Filosofia das Formas Simbólicas.
Ernst Cassirer - nascido em 28 de julho de 1874, em Breslau, morto em Nova York, em 13 de abril de 1945 - não é apenas o grande nome da escola neokantista de Marburgo, é um dos grandes filósofos do século. Na Alemanha, foi professor das Universidades de Berlim e de Hamburgo, até que, em 1932, rumo a Oxford, afastou-se para sempre de seu país, por causa da sombra nazista. Em 1941, mudou-se para os Estados Unidos - Universidade de Yale - e, no último ano de vida, foi professor visitante da Universidade Columbia. Quando morreu, estava terminando seus manuscritos do notável O Mito do Estado, um (talvez o maior) dos maiores estudos já feitos a respeito da irracionalidade e formação dos mitos politicos.
A grande problemática desenvolvida por Cassirer, em sua obra, reside na questão do conhecimento, que se realiza por meio das "formas simbólicas": linguagem, mito, arte e religião. Por isso mesmo, EC, logo ao final do capítulo II desse livro, em lugar de animal racional, firma a sua famosa definição do homem, como animal simbólico.
Nessa Antropologia Filosófica, que também é mencionada como "introdução a uma filosofia da cultura", além da abertura de horizontes para novas idéias, ao leitor, possui quase que uma impressionante sucessão de iluminações conceituais, pedras de toque da inteligência formulativa.
Ele explica, por exemplo, que a filosofia das formas simbólicas parte do pressuposto de que a essência do homem deve ser entendida como uma definição funcional e, não, substancial (tema, aliás, dessa confrontação, de seu livro homônimo, Substanz-u-Funktionsbegriff, publicado em 1910). Isso porque o homem se distingue mediante sua obra.
Da mesma maneira, avant-la-lettre anunciou um estruturalismo que estaria tomando o lugar do positivismo, dada a contribuição de uma espécie de física campal, de outra visão biológica, que ultrapassou a ortodoxia do darwinismo, sem falar na imensa contribuição da psicologia da gestalt.
Aliás, logo adiante, nesse sentido, são antológicos os capítulos sobre a linguagem e a arte. Em suma: Antropologia Filosófica é um lançamento do maior interesse. Quem não conhece Cassirer, terá, aí, uma admirável amostragem.
O Globo
17/12/1972