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Guia para a morte voluntária

A eutanásia continua sendo hoje assunto polêmico - o que é algo de descartável, diante de um dos mais simples princípios éticos: o direito de cada um de dispor de sua vida. Ou aquele dos profissionais de medicina e/ou farmacologia de evitar o prolongamento artificial da existência dos pacientes ou o prolongar de seus sofrimentos em casos perdidos.
"A solução final" ("Final exit"), de Derek Humphry, é mais uma contribuição objetiva para o tema e já tem, como epígrafe, um dos mais belos trechos de Keats, com este
touchstone de encerramento: "Now more than ever seems it rich to die,/ To cease upon de rnidnight with no pain..." ("Ora mais do que nunca parece que morrer enriquece/ Expirar sem dor à meia-noite..."). Há um prefácio de Betty Rollin que se refere ao seu próprio livro, "Último desejo", e os padecimentos da mãe.
Em sua introdução, o autor lembra que, em 1981, publicou por sua conta o livro "Deixem-me morrer antes que acorde" ("Let me die before I wake"), porque não havia encontrado editor de tradição disposto a lançá- lo. E, mais ainda, também antes já havia publicado, em 1978, a biografia de sua mulher. "A decisão de Jean" ("Jean's way") - fato que lhe gerou complicações policiais, pois ela, em cancer terminal, pediu para morrer, e Humphry, com o auxílio de um médico, adotou a eutanásia. "A solução final" surge basicamente como uma obra pragmática. Não há pretensões teóricas, sejam científicas ou filosóficas. Trata do óbvio - ou, pelo menos, daquilo que é óbvio quando não se usam as roupagens do preconceito. Aqueles mesmos preconceitos e deturpações de uma postura de violência que ainda faz entender o aborto como um crime.
Esse caráter pragmático está melhor delineado nas páginas 157-160, onde vem estampado um múltiplo receituário de vários medicamentos em combinação que propiciam uma "tabela de dosagem letal de remédios a ser utilizada em casos de autoliberação de uma doença terminal". Isso fica complementado nas páginas 206-208, com respeito à aplicação por via oral ou indovenosa dos medicamentos mesclados a outros componentes extrafarmacológicos. Em suma, no apêndice B estão contidos até formulários de manifestação de vontade e modalidade de procuração.
Além de relatos e depoimentos, o livro contém um outro pequeno trecho referente à "Hemlock Society" ("Sociedade Cicuta"), criada em Los Angeles, em 1980, e que tem, como fundador principal, o mesmo Derek Humphry. Segundo ele, a organização já conta com 40 mil membros e 70 sucursais espalhadas pelos Estados Unidos, sempre produzindo livros, boletins, vídeos, promovendo encontros e conferências, dentro do objetivo de forjar uma consciência a respeito da eutanásia.
Obra de leitura fácil, escorreita. Obra pra fazer lembrar que a liberdade não pressupõe sutilezas de restrições e que o preconceito traduz uma das enfermidades mentais daquilo que se entende como humanidade.

“Quando minha primeira mulher não podia mais suportar a dor e a deterioração de seu corpo, nem a miserável condição de uma vida dominada pelo câncer, ela me implorou que a ajudasse a pôr um fim àquela terrível agonia. Era um pedido tão lógico quanto tocante.
Mas o que eu poderia fazer? Não sou médico nem farmacêutico, e qualquer terminação violenta de uma vida, por tiro, facada ou estrangulamento, sempre foi algo abominável para mim.
- Procure um médico que nos queira fornecer uma dose mortal de alguma substância que eu possa tomar, insistiu Jean. Incapaz de vê-la naquele sofrimento, mas notando a calma decisão com que me falava, foi nesse momento que decidi ajudá-la.
A quem poderia eu recorrer? Os três médicos que tinham estado a tratá-la com grande competência e dedicação vieram logo à minha lembrança. Tendo passado tanto tempo a seu lado, assistindo-a profissionalmente, eles reconheciam - tendo-o reconhecido de maneira clara e direta tanto a ela quanto a mim - que a morte se aproximava cada vez mais, e que não lhes restava recurso algum para conter-lhe a marcha. Eu sabia, no entanto, que meu apelo equivaleria a pedir a um desses três profissionais que cometesse um crime: o de concorrer para um suicídio.”

O Globo
03/04/1994

 
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