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Ver/viver "Zélino" com amor/humor de envergadura

Por Rogério Sganzerla

Não só o grande estadista, mas toda alma bem-nascida se vê pelos frutos. Às vezes, chego a pensar que a noção de realismo no Brasil está mais próxima daquela do ébrio irlandês para quem a realidade não passa de uma ilusão perigosa, provocada por uma aguda escassez de álcool. Ou de recursos.
Mas duvido que definições e pensamentos sejam em tudo e por tudo as mesmas em todos os cantos. Por exemplo: discordamos dos ditos concretistas sobre o nosso cinema, sobretudo quando se referem a filmes assinados por mim, pois não conseguem se distanciar da visão paroquial e unilateral, carregados de sentimentalismo cúmplice e jamais alcançam o "matter of facts". "Zélino” é a única exceção.
Esta crônica é uma lista de excelências, quase um diagrama, e não a simples transcrição da lógica gráfica, e visa o coração do leitor da Ilustrada de todo o Brasil.
Segundo Godard, "a sétima arte não reproduz o visível - ela simplesmente torna visível. Tudo está para ser refeito. A última revolução cultural começa a acabar e formou apenas reacionários. As indústrias da imagem e do som [cativos] ainda são seus fiéis mercenários. Se excetuarmos essa parte do cinema que se chama televisão [que no Brasil nos sonega, rouba e desperdiça com o pior], o cinema tem a mesma influência que as pesquisas de laboratório ou a música de câmera".
Não pode haver limitações: "Tudo é teatro, tudo é cinema, tudo é ciência e literature. E, se misturássemos um pouco as coisas, tudo estaria melhor. Por exemplo, nas universidades [segundo Godard] as aulas poderiam ser dadas por atores, já que os mestres [sem. obra] comportam-se como macaquinhos. Depois se poderia aproveitar e aprender a ler um texto e como dizê-lo".
Enfim, tudo é possível e nada é proibido, basta estar em contato com a vida. Isso "Zélino" conseguiu através de seu próprio gênio. Mas quem mais? Poucos nasceram livremente no cinema; quase todos formados por estruturas decadentes, que não tiveram coragem de dinamitar.
Entretanto, é preciso ter esperança, pois as pessoas (Segundo Godard) podem mudar... Para melhor ou não. É o futuro avançando em passos largos, a pressa do presente em conflito com a letargia do passado. Não podemos admitir o falso argumento de que, se alguém tem que pagar a conta do desperdício nacional, seja só o artista exilado em seu próprio território. Muito menos deixar a crítica e o cinema pátrio na dúvida de sua própria existência. O espectador fica novamente reduzido a zero. E tudo recomeça do grau zero da linguagem.
Falar de "Zélino" - crítico (sem esquecer o bom poeta e inspirado tradutor de um Pound) é lembrar a linguagem da dor, tão presente em nossa época, de grandes perdas de personalidades de primeira ordem da cultura brasileira.
Poderosamente cósmico, o vulcão cinematográfico concretista encontra aqui o seu principal e quase exclusivo intérprete, sobretudo na fase do "Correio da Manhã" em que transborda o talento concentrado, criativo e instigante do bom crítico que foi, sem dúvida, autor das nossas melhores páginas filmológicas, atualmente em falta no idioma, o que provoca uma enorme saudade.
Vale a pena ler, reler texto e estudo sobre amor/humor recurso fundamental de um autêntico magistrado do inconsciente, como esse severo e generoso "Zélino" que votou no meu filme "A Mulher de Todos" como dos melhores do ano de 1969, inventando palavras para definir minha estréia - "Rádio-tele-cine-jornal".

Folha de S.Paulo
30/06/2001

 
Poesia
Estado de Minas 10/09/1961

Eruditos & eruditos
Carlos Heitor Cony Correio da Manhã 28/09/1963

Prelúdio do Zé Lino
Carlos Heitor Cony Folha de S.Paulo 26/05/1965

A contracultura eletrônica
Jacob Klintowitz Tribuna da Imprensa 18/05/1971

Transas, traições, traduções
Carlos Ávila Estado de Minas 02/12/1982

Escreve poemas, traduz Pound, é crítico de arte e é de Copa
Vera Sastre O Globo 03/10/1983

O brilhante esboço do infinito jogo de dados
Nogueira Moutinho Folha de S.Paulo 09/12/1984

Diário das artes e da impensa
Paulo Francis Folha de S.Paulo 12/01/1985

Igitur, um Mallarmé para iniciados
Salete de Almeida Cara Jornal da Tarde 08/03/1985

Grünewald traduz Ezra Pound
Jornal do Brasil 12/03/1985

O grande desafio de traduzir Pound
Sérgio Augusto Folha de S.Paulo 16/03/1985

O presente absoluto das coisas
Décio Pignatari Folha de S.Paulo 06/09/1985

Ezra Pound - entrevista
Gilson Rebello Jornal da Tarde 26/10/1985

Pound, traduzido. Uma façanha ou loucura?
Isa Cambará O Estado de São Paulo 05/12/1986

J. Lino inaugura forma de pagamento
Ângela Pimenta Folha de S.Paulo 07/12/1986

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