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Diário das artes e da impensa

Por Paulo Francis

Este ano é o centenário de Ezra Pound. A boa noticia é que meu velho amigo José Lino Grünewald nos últimos seis anos traduziu os "Cantos" do poeta que nasceu na roça americana cem anos atrás. Já há um livro em que José Lino, Mário Faustino, Décio Pignatari e os Campos Brothers traduziram Pound. Não posso dizer que, familiarizado com os originais, me sinta à vontade com as traduções, mas me parecem muito competentes. José Lino é um herói em traduzir os "Cantos". Tem de tudo. São a epítome do modernismo, onde tudo, desde o mais vil anti-semitismo de Pound ao magnífico domínio e exploração do coloquial, ao uso de mito e de uma variedade de línguas -estrangeiras, servem ao poeta para a música particular do poeta. Nem todos a ouvem. E há os idólatras. Uma escola crítica liderada por Hugh Kenner nada vê de errado em Pound. Mas o leitor brasileiro pode começar lendo as traduções citadas acima (com muitas notas inteligentes) e depois partir para os "Cantos" via Zé Lino. É um evento cultural.
Uma vez L.F. Veríssimo me escreveu perguntando se eu concordava com George Steiner que a cultura americana é de segunda mão. É desnecessário eu concordar ou discordar. Os únicos escritores de primeira ordem já produzidos pelos EUA são Pound, Eliot e Henry James (com algumas restrições este último). Eliot e James se naturalizaram ingleses. Pound se tornou admirador quase frenético de Mussolini. Bem...
Até um poeta tem obrigação de ser decente, escreveu Orwell sobre Pound. A história é mais complicada. A baixeza política de Pound é parte do todo. E uma grande poesia que deixa de ser grande quando Pound entra pelas loucuras do "crédito social", fascismo e antisemitismo. E vivendo num mundo mais e mais dominado pela usura, talvez já não o achemos tão doido quando deita o verbo contra a dita cuja, que identifica totalmente com os judeus. É bem mais universal a usura.
Se Pound nunca tivesse escrito nada próprio, teria passado à história pela editoria que fez de "The Waste Land", de T.S. Eliot. Há um facsimile à venda do original antes de Pound meter a mão. Por uma vez na história o crítico e editor sabem mais o que o poeta quer do que o próprio poeta. Isso agora virou escola de acadêmicos. Mas Pound preferia passar fome a virar acadêmico e Eliot preferiu ser bancário a ser acadêmico. Não é fácil transmitir esse tipo de atitude à juventude de hoje.

Folha de S.Paulo
12/01/1985

 
Poesia
Estado de Minas 10/09/1961

Eruditos & eruditos
Carlos Heitor Cony Correio da Manhã 28/09/1963

Prelúdio do Zé Lino
Carlos Heitor Cony Folha de S.Paulo 26/05/1965

A contracultura eletrônica
Jacob Klintowitz Tribuna da Imprensa 18/05/1971

Transas, traições, traduções
Carlos Ávila Estado de Minas 02/12/1982

Escreve poemas, traduz Pound, é crítico de arte e é de Copa
Vera Sastre O Globo 03/10/1983

O brilhante esboço do infinito jogo de dados
Nogueira Moutinho Folha de S.Paulo 09/12/1984

Diário das artes e da impensa
Paulo Francis Folha de S.Paulo 12/01/1985

Igitur, um Mallarmé para iniciados
Salete de Almeida Cara Jornal da Tarde 08/03/1985

Grünewald traduz Ezra Pound
Jornal do Brasil 12/03/1985

O grande desafio de traduzir Pound
Sérgio Augusto Folha de S.Paulo 16/03/1985

O presente absoluto das coisas
Décio Pignatari Folha de S.Paulo 06/09/1985

Ezra Pound - entrevista
Gilson Rebello Jornal da Tarde 26/10/1985

Pound, traduzido. Uma façanha ou loucura?
Isa Cambará O Estado de São Paulo 05/12/1986

J. Lino inaugura forma de pagamento
Ângela Pimenta Folha de S.Paulo 07/12/1986

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